Preza-se muito pela verdade... especialmente aquela que
ficou-se sabendo por outra pessoa.
- Dizem que a verdade dói na "cara".
- Na política criou-se inclusive a comissão da verdade;
- Nos julgamentos se jura falar a verdade, somente a verdade e
nada mais que a verdade.
- E tua verdade?
Qual é?
Confrontados com ela, muitos fogem, outros não
querem saber.
À exemplo disso em casos de suspeita de doença, é
muito frequente encontrar na cultura masculina aqueles que preferem não
ir ao médico para não se defrontar com a verdade sobre sua saúde. Mas, não iremos aprofundar sobre a saúde orgânica, uma vez que, este blog se propõe a enfatizar a saúde psíquica.
Dizem que a voz do povo é a voz de Deus. Nesta perspectiva, muitos pre-conceitos se perpetuam como verdade. Especialmente aqueles que dificultam as mulheres de se divorciarem. Culturalmente, mulher divorciada ainda é mulher puta, ameaça para outras mulheres, e temor para as próprias amigas, inclusive.
"... as
barreiras
sociais nos cegam."[Goleman,
1946]
Culturalmente, ao homem cabe arrotar grandeza, virilidade... não importa o que diga, o
que faça (especialmente frente a outros do grupo).
Homem tem que
ostentar a sua
POTÊNCIA... Seja esta
potência financeira ou sexual. Finanças e sexualidade [pode não parecer
mas] estão intimamente relacionadas. Desenvolverei isso em outra
postagem... No momento cabe apenas relacionar que encontrar-se em muitos
cenários conjugais tudo aquilo que vem a ser
artifício
para lidar com a
insatisfação [comum] de
parceiros sexuais; e, tudo aquilo que os acalenta. Importa destacar
que a
INSATISFAÇÃO nunca
se satisfafaz e é por isso que se chama ―
insatisfação. E, claro, que essa definição de insatisfação não satisfaz. Mas, por ora, os deixarei insatisfeitos com a mesma. Cabe também enfatizar a insatisfação que impulsiona os ítens a seguir:
- Qual é o homem que quer ter dúvida de sua potencialidade? [no mais amplo sentido da palavra]
- Quem gostaria de ouvir NÃO como resposta, após a famosa cena sexual: "foi bom pra você?"
- Quem gostaria de saber que a pessoa a quem mais se
desejou na vida nunca sentira nada mais do que nada?
- E se lhe fosse dito que seu relacionamento é de conveniência e, só você não consegue ver?
- E se tudo isso fosse VERDADE???... Como você lidaria com isso?
Os exemplos citados acima, são presentes pelo mundo à fora. Às vezes, mais de um
dos itens destacados podem serem encontrados em uma mesma pessoa. Seriam
verdades de pessoas que talvez se sintam incapazes, receosas, inseguras, impotentes, e portanto
INSATISFEITAS. Mas insatisfação não é o foco de hoje, apesar de que, qualquer um dos pontos questionados poderiam estar presente na vida de qualquer um de nós. Esses, ou outros semelhantes. E nós, poderíamos escolher trabalhá-los de frente, ou mantê-los à distância como fazem aqueles que muito sabe sobre os outros, e pouquíssimo sobre si mesmo. Ou seja, aqueles que não gostam de
OUVIR-SE...de
perceber-se como faltoso...
Faltoso no sentido de FALTA, LACUNA, BURACO, FENDA, VAZIO, NADA.
Nesse viés, como
faltoso, o sujeito jamais poderá completar o
objeto amado. Uma dialética de BURACOS existenciais ―crise de
relacionamentos e a deterioração de outros laços... Bem aí cabe a célebre frase
de Jacques Lacan quando diz que
"amar é dar o que não se tem... a quem
não o É!" Perfeita essa frase!... Claro que ela é bem mais ampla que o contexto que estou colocando aqui. Mas no momento, apenas cabe mostrar a dificuldade que o sujeito tem de lidar com suas próprias limitações. Nessa perspectiva, o vazio se
instala como missão que se oferece ao outro nas
constantes tentativas de preenche-lo com sucessivas provas de amor.
Mesmo que seja uma prova importada ou ditada pela mídia. Prova sempre frustrada, pois nunca haverá NADA que se possa fazer para preencher-se ou preencher o outro. Daí, a dificuldade do ser humano encarar o seu próprio NADA... de encarar a sua própria verdade.
Diante disso, surge como paliativo as verdades virtuais... aquelas verdades onde tudo é lindo, feliz e maravilhoso.
Para sobreviver neste mundo de "meias
verdades", cria-se
artifícios para
que a vida não seja tão dura como dura é a verdade que jaz dentro do
ser humano e que FENDE o seu ego. Este é o motivo pelo qual muitos não
vão ao "médico de ouvidos"; e de outros tantos não procurarem um
psicólogo (ou psicanalista). Querem continuar "surdos"...
No dito popular:
"O pior cego é aquele que não quer ver"... neste contexto: O pior surdo, qual é?
É aquele que não presta atenção ao seu próprio discurso, aos lapsos de linguagem, ao que diz o seu sonho onírico, metáforas, metonímias, sintomas e todos os outros rastros que apontam para a VERDADE do sujeito. Já é importante salientar, que a VERDADE tratada aqui, é a verdade
INconsciente do sujeito.
Um dos
artifícios
mais fáceis de se observar naqueles que
faltam com a própria VERDADE é a dedicação que eles têm com
a vida alheia. Seus ouvidos são bastante apurados na casa das "paredes têm ouvidos". Isto é, a parede da casa dos outros. Mesmo que sejam paredes virtuais, cibernéticas ou imaginárias.
É muito comum encontrar
pessoas dedicando-se a vida dos
outros para esquecer da própria. À exemplo disso temos também ―as
ditas redes
sociais.
Esta dedicação à vida de terceiros, praticada na vida
real e virtual, passa contínuamente por um filtro
negativo de visão. Onde o observa-dor só vê o que
quer. Ou seja, passa-se a ver a vida do outro (quase sempre) de maneira
negativa. Colocando defeitos onde
não existem. Isto porque, "defeito", cabe enfatizar, é um conceito subjetivo,
chegando a ser um preconceito, no mais amplo sentido da palavra
―pre-conceito.
"Mas, assim que
um viés
científico se instala, nossas lentes se embassam. Costumamos nos
agarrar a qualquer coisa que confirme o viés e ignorar o contrário [...]
E, assim, quando encontramos alguém a quem o preconceito possa ser
aplicado, o viés distorce nossa percepção[...]" (GOLEMAN, 1946)
Optar
pelo artifício é a via mais cômoda para os que querem ter a sensação
de se sentir melhores...
melhores que os outros.
É o que condiciona
àqueles que vivem a exibir os objetos e as marcas que
ostentam... É uma
maneira de dizerem a si mesmos:
"eu comprei a SENSAÇÃO que
eu não tenho."
A
frase acima será tema da próxima postagem, onde continuarei
desenvolvendo o tema da cultura masculina e suas des-ilusões.
A NEGAÇÃO, tem sido amplamente explanada em minhas postagens. Na
postagem de hoje, mostro-a como
artifício.
Paradoxal, é o
artifício que, citado
anteriormente como recurso
consciente (vindo ter as múltiplas
finalidade de mascarar, compensar, iludir, aliviar etc...) mostra-se
também como recurso que nosso
INconsciente lança mão para defender-se e/ou
proteger-se daquilo que vem a considerar forte, pesado, ou duro demais
para o sujeito enxergar, encarar, absorver, engolir, digerir, assimilar
e/ou compreender. Parece irônico, mas tudo isso diz respeito a VERDADE
do sujeito. Verdade que por vezes, vem a causar indigestão...
literalmente.
Verdade esta que vem a negar. Mas em
Psicanálise
Aplicada, Freud no volume VII de
suas obras, nos lembra que a
"negação
é uma forma de levar em consideração o que está reprimido".
A verdade do sujeito não está escrita em sua testa, nem escancarada em
sua fala, por mais que a pessoa seja verdadeira e honesta no que diz.
"A verdade do
INconsciente, deve desde então, ser situada nas entrelinhas".
(LACAN, 1998)
Tão defendida por todos, a verdade é,
paroxalmente, rejeitada pela maioria. Ou seja, a verdade que se rejeita
não é a verdade dos outros, mas, própria VERDADE. Em outras palavras: a
verdade do eu.
Até onde você se conhece? E até onde está
disposto a conhecer-se?
Trabalhar-se para escutar a
própria VERDADE é um caminho... Um caminho árduo... trabalhoso...
Longo. Onde pode-se optar por
atalhos, artifícios
e dribles para tentar (como bom jogador que
seja)
jogar com a própria vida...é uma opção sua...uma escolha que pertence a
cada um para tornar-se melhor como pessoa, como cidadão, como ser.
Eu acredito, particularmente, que a vida não é um jogo. A vida é pra ser vivida. E quem não sabe vivê-la, acaba jogando-a fora vitimizando-se por ironia da vida.
A vida pode ser melhor... tornando-se melhor como pessoa. E tornar-se melhor, como pessoa, é
bem diferente de tentar ser melhor que os outros. Pois quem quer se
sentir melhor que os outros no fundo, no fundo, sempre se achou pior
que todos eles juntos.
"E quem
se acha melhor
que os outros ―resiste a suas próprias melhoras."[Anderson Gomes]
Texto
de: