FUGIR ou FINGIR?
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Seria eu mais um a falar que carnaval é a festa da carne, e dos 4 dias de churrasco que se faz dela?
Seria eu também a falar da carnificina que tanto narram os fundamentalistas a respeito desta época do ano?
Por que se ocupam tanto daquilo que não querem se ocupar?
Será que já pararam para pensar na mesma proporção em que estão a falar?
Há os que se retiram destas festividades para "retiro" espiritual embusca de tranquilidade. Mas sair da cidade, na intenção de fugir do carnaval, não seria uma grande ilusão, visto que há carnaval fora de época o ano inteiro?
Há algumas cidades, como aqui em Maceió AL, por exemplo, que ficam desertas... as festividades carnavalescas são direcionadas para os interiores.
Opções não faltam para esses 4 dias de feriado prolongado... e tudo que o povo brasileiro quer, é só mais um motivo para "bebemorar" seu[s] dia[s] de folga.
Nesta linha de raciocínio, torna-se apenas um TRADIÇÃO "os retiros da carne" (como se da carne se pudesse retirar-se).
É sobre este "retiro da carne", que hoje me propus a escrever.
Poderíamos fazer uma lista infinita para as respostas que permeiam esta pergunta... Mas em vez disso, creio que se faz mais importante, enfatizar que o ano inteiro se ouve, se vê, e se sente o apelo voltado a sexualidade do ser humano, DESPERTANDO em todos os seus 5 (ou 6) sentidos os prazeres ditos ―da carne.
Esse DESPERTAR, toca no calabouço da alma... ou podemos dizer no "cala boca"?
O que se busca tanto calar na alma ou retirar dela?
O que se pretende nos retiros?
São diversas as alternativas que se apresentam a esta pergunta; desde entrar em contato com a natureza divina (DEUS), ao contato com natureza terrestre. Em se tratando de natureza terrestre, abrange-se: a natureza animal, vegetal ou mineral. As possibilidades são muitas, mas o foco deste blog e desta postagem, é trabalhar em cima daquilo que é o foco da psicanálise: A SEXUALIDADE HUMANA.
Um dado considerável, é que para muitos casais "retirantes", de estado cívil casado ou solteiro: este feriadão, que ocorre anualmente, os leva para longe das festividades da carne, apresentando-se embrulhado no paradoxo de ter a excelente oportunidade de estarem 4 dias juntos com a carne um do outro, e se ocupando da mesma. Para muitos os casais casados (não todos), é só mais uma opção para uma lua de mel no campo. Para muitos casais solteiros (não todos) é uma chance única, que não encontrariam jamais na capital de sua cidade. Diante disso, questiono: O retiro é de quê mesmo?
Há diversas formas de se trabalhar a ESPIRITUALIDADE HUMANA, uma delas é a religião, que na origem da palavra quer dizer:
Religião (do latim religare, significa religação com o divino)
Há diversas formas de se trabalhar a ESPIRITUALIDADE HUMANA, uma delas é a religião, que na origem da palavra quer dizer:
Religião (do latim religare, significa religação com o divino)
Para os que optam se retirar das influências "mundanas", resta saber, em que mundo estão. Um mundo que não oferece apenas 1 vez no ano os rítmos do axé, do afro, do frevo, e outros rítimos que atualmente se mesclam ao carnaval brasileiro. No Brasil, é carnaval o ano inteiro. Pra quem quer de fato ter uma ligação com DEUS, deve busca-lo, senti-lo com a alma e com o coração.Deus, transcende a todo entendimento humano, e não se pode aprisiona-lo em conceitos e pre-conceitos doutrinários, isso é pretensão do homem, que sempre quis ser um deus, aos seus próprios olhos.
Falando em conceitos e pre-conceitos (no mais amplo sentido da palavra), basta observar, sem muito esforço, para constatar que são os religiosos aqueles que se mostram MAIS preconceituosos, em matéria de SEXUALIDADE HUMANA.
Diante disso, questiona-se:
Até onde se separa sexo e espiritualidade?... Aliás, se separa?
A sexualidade humana, não passa pelo âmbito espiritual?
Gostaria de enfatizar neste texto que TUDO aquilo que separam do âmbito ESPIRITUAL, torna-se puramente mecânico e biológico. Instintivo, defenderiam alguns teóricos. Mas a sexualidade é mais que isso... envolve um sentido, um significado, e uma entrega que ultrapassa a fricção, a penetração, ou o fluído dos corpos. Sai do físico, instintivo e puramente biológico, para entrar numa outra dimensão. Uma dimensão subjetiva, psíquica, intangível e inatingível.
Há um sentido transmitido no toque, no olhar, no abraço, na sensação do beijo, no se entregar por inteiro, dando uma nova conotação a corpos que poderiam ser vistos como meras máquinas de REPRODUÇÃO.
É este SENTIR que é de outra dimensão, que produz SIGNIFICADOS para além da matéria. SIGINIFICADOS estes que os animais não são capazes de dar... e simplismente porque animais não simbolizam. Animais cruzam, e são do âmbito da obviedade da anatomia, obedecendo além de tudo, as leis da sua espécie. Animais têm instinto, e seres humano tem libido: a energia da sexualidade humana, que permeia tudo aquilo que lhe traz satisfação. Potanto, é possível exercitar também sua sexualidade através da arte, da profissão, do esporte, ou de qualquer outra forma, onde o sujeito se sinta bem... e se sentir bem, é algo indiscutível, que varia de pessoa pra pessoa. O que pode ser considerado BOM para um, pode não ser BOM para outro. Gosto, não se discute.
No tocante a mecânica genital, o coito, nem sempre traz satisfação, quando o ato sexual, é realizado apenas como um dever, uma prova, uma rotina, ou simplesmente uma obrigação.
Percebemos então, que a SEXUALIDADE HUMANA pode ter diversas conotações, e essas conotações quem as dá, é o sujeito que as nota e as denota.
Seres humanos, se experimentam em suas raças, sexos, texturas e cores. Reescrevem sua própria história, e têm o livre arbítrio de dar um novo sentido a anatomia de seus corpos, demonstrando que nem sempre o sexo biológico corresponde ao sexo psicológico. E neste sentido, a sexualidade expande o seu conceito como sendo de natureza bio-psicossocial. E quando falamos em psiquê, estamos falando de alma, embora para algumas doutrinas, alma e espírito, sejam coisas distintas. Vale à pena trazer aqui também, o conceito que o dicionário tem de espírito, na origem da palavra:
Seres humanos, se experimentam em suas raças, sexos, texturas e cores. Reescrevem sua própria história, e têm o livre arbítrio de dar um novo sentido a anatomia de seus corpos, demonstrando que nem sempre o sexo biológico corresponde ao sexo psicológico. E neste sentido, a sexualidade expande o seu conceito como sendo de natureza bio-psicossocial. E quando falamos em psiquê, estamos falando de alma, embora para algumas doutrinas, alma e espírito, sejam coisas distintas. Vale à pena trazer aqui também, o conceito que o dicionário tem de espírito, na origem da palavra:
espírito
(latim spiritus, -us, sopro, ar, alma) (PRIBERAM, 2010)
Seja qual for a dimensão sexual, o sexo ainda é tabu, em diversas sociedades, dentro e/ou fora da religião. Lembremo-nos antes de continuarmos a falar sobre a "festa da carne", que sexo, é antes de tudo: AMPLO, e não se pode reduzi-lo a carne, como erroneamente os leigos em matéria de sexualidade humana,o faz.
Em se tratando de TABU, Freud, pai da psicanálise nos acrescenta em seu livro TOTEM e TABU que:
"a base do tabu é uma ação proibida cuja realização existe uma forte INCLINAÇÃO já inconsciente".(FREUD. 1913)
Entendendo por sexualidade, tudo o que diz respeito a satisfação humana, podemos dizer que a sexualidade não se resume ao genital, nem as funções orgânicas e fisiológicas como se limitam algumas visões restristas, que desta forma, limita o ser humano, a um ser de funcionamento estrito e biológico.
Biologicamente o ser humano nasce, cresce, reproduz e morre. É um destino mecânico, e talvez, diriam alguns, até instintivo.
Muitas pessoas, muitas vezes, se acordam biologicamente sozinhas, sem a presença de um despertador, ou seja,de acordo com seu relógio biológico.
- Biologicamente, as pessoas funcionam melhor em um horário, que em outro.
- Biologicamente sente-se fome.
- Biologicamente busca-se alimento para SACIAR a fome.
- Biologicamente o organismo expele as impurezas do corpo.
- Biologicamente se des-cansa.
- Biologicamente se sente fome de sexo.
- Biologicamente dorme-se e acorda-se de novo.
Sobre a fome de sexo, busca-se igualmente saciá-la o ano inteiro, e não só no carnaval. Mas há quem acredite que é nessa época de ano, o ânus, a boca e a vagina, estejam propensos a ocuparem-se em seus afazeres biológicos. Haveria também o ciclo do cio, no ser humano?
Abramos aqui um parêntese, para conceituar o CIO.
cio(latim zelus, -i, inveja, ciúmes, emulação, ardor)
1. [Biologia] Apetite sexual dos animais, especialmente das fêmeas, em determinadas épocas do ano. (PRIBERAM, 2010)
Haveria uma época no ano (ou do ano) em que o ser humano estivesse menos "carnavalesco"? Menos faminto? e menos sedutor?
Haveria uma época em que as roupas não sejam tão provocantes?
Qual?
Quando saímos do campo do biológico, percebemos que há fome que o pão não sacia; e há sede que não é de água.
Há coisas que não são materiais, e que a biologia não dá conta.
Nem tudo é palpável, e nem tudo é "calável", ou seja, não se pode calar. No calabouço da alma, encontra-se a vida inteira, APRISIONADO, tudo aquilo que apenas uma vez no ano, pensa-se em FUGIR e/ou FINGIR.
Fugir do carnaval... ou Fingir no carnaval?
FINGIR NO_ Além dos pontos, já mencionados, deve-se levar em consideração, aqueles, que se acham muito originais, com suas máscaras carnavalescas, quando, são essas máscaras as verdadeiras vítimas do calabouço de seus donos. Agora, passado o carnaval, elas, as máscaras, jazerão por mais um pouco de tempo, a espera do carnaval mais próximo, (os fora de época) onde poderão FINGIR mais uma vez que são apenas máscaras, FANTASIAS e nada mais.
FUGIR ou FINGIR... a escolha é de cada um (conforme seja MAIS conveniente). Porém, entre a FUGA e o FINGIR, permeia a possibilidade de aceitar a sexualidade humana, como ela é, ou seja ―AMPLA, e multiforme.
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Essa aceitação, que tem sido palco de tantos conflitos, nas diversas esferas sociais, oferece a sugestão de uma busca por si mesma; onde os valores alheios são respeitados, sem desrespeitar os valores íntimos e pessoais do indivíduo.
A busca, parte da decisão de QUEM se dispõe a trabalhar-se, no dia a dia de sua sexualidade, como ser humano.
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[texto: Anderson Gomes]
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Bibliografia:
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Freud, S.(1913) Totem e Tabu. In: Obras psicológicas completas: Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
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"cio", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2010, http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx?pal=cio [consultado em 23-02-2012].
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"espírito", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2010, http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx?pal=espírito [consultado em 23-02-2012].