quinta-feira, 20 de setembro de 2012

[parte 3] ANIVERSARIANDO

                     Para algumas pessoas, não faz nenhuma diferença entre viver ou morrer. Conforme falei na postagem anterior, a cor do verbo VIVER e MORRER são as mesmas, e,  conjugados do mesmo modo por  essas pessoas.
         Deixei para trazer nesta postagem, um pouco de  embasamento teórico, uma vez que  nas sequências anteriores do  tema  fui mais informal quanto ao formato do conteúdo.  Neste, gostaria de me aprofundar um pouco mais sublinhando sempre o --EU INTERIOR.
        
         Ao trazermos o título "ANIVERSARIANDO" estamos também trazendo em foco a EXISTÊNCIA HUMANA. E diante disso, se faz imprescindível questionar:
  • Qual o sentido da vida?
Trazemos aqui  algumas contribuições de  algumas ciências humanas.
Biologicamente o ser humano nasce, cresce, reproduz e morre. Esse é o sentido da vida, (biologicamente falando, enfatiso). Porém,  o ser humano não é só biológico. Podemos reagir ao meio ambiente com  algo além da nossa programação "instintiva"... Não somos restritos como os animais, que,  em sua  necessidade de comer ―caça, mata e morre. Simples assim.  Para estes seres irracionais  todos os dias é o mesmo: madruga, espreita, caça, mata, e alimenta a prole. No final do dia  (para os animais diurnos) vão  dormir sem mais perspectivas ou  expectativas para o dia seguinte... Isso porque "expectativa" é do humano, e não do animal, mineral ou vegetal, apesar de que, admitamos: muitos humanos parecem não viver... "vegetam".
Já pensou se a nossa vida fosse assim... programada UNICAMENTE pela biologia?... Nunca é demais lembrar que o ser humano é um ser bioPSICOssocial e espiritual. Ou seja, o ser humano não é tão simples como julgam os livrinhos de autoajuda, e as frases feitas tão proclamadas  em redes sociais. Não sei se essa informação influencia nossos dias, visto que, a raça humana ultimamente  está matando  por tudo e por nada.
          Por este ângulo: não somos tão diferentes dos animais, pois  assim como eles, também  não temos PENSADO, apesar de nós [humanos] "por incrível que pareça" termos a faculdade de PENSAR. É mais prático encontrar tudo prontinho, bastando seguir a maré para mastigar o mastigado já por ela. Bastando "curtir", o já curtido pela maioria. Bastando comprar o já consumido pela moda. Bastando copiar para não se dar ao trabalho de "se matar" de PENSAR.
  • "pensar, dá trabalho"
Então mais prático seria ligar o nosso piloto automático  e  "deixar a vida me levar, vida leva eu..." (ZECA PAGODINHO)
HOMEM PRIMATA
Quem sabe melhor seria, em vez de evoluir, voltarmos gradativamente no tempo a  época das cavernas?... Ou quem sabe  numa época bem mais remota... primatas.

"Desde os primórdios
Até hoje em dia
O homem ainda faz
O que o macaco fazia
Eu não trabalhava
Eu não sabia
Que o homem criava
E também destruía..."[TITÃS]

         Do que está adiantando tanta tecnologia, se a cada dia que passa somos vítimas dela???
 A ciência que vem para avançar o homem paradoxamente tem o animalizado.  Estamos vivendo racionalmente? emocionalmente? ou por "instinto"?
  • O instinto do desejo de matar ou morrer [sem meios termos]
  • O instinto de caçar ou ser caçado [sem alternativas]
  • O instinto de fazer sexo compulsivamente [ inclusive pela internet]
  • O instinto de comprar... comprar... comprar.... gastar... possuir...possuir...possuir...
  • O instinto de construir ou destruir, de criar ou de apagar
        Já aprofundando um pouco mais a questão "instintiva", convém informar neste texto, que a palavra "instinto" foi uma má tradução  do alemão do termo: PULSÃO ―nas obras de Freud. Ou seja, na origem da palavra: PULSÃO é  Trieb, em alemão. Se faz necessário salientar isso, mesmo estando muitos de nós, humanos, se comportando como bichos, conforme  ja fora sublinhado acima.
Animais sim, tem instinto. O homem tem libido. É a libido quem alimenta a pulsão.
       Seguindo este raciocínio, acrescentemos que Freud, teorizou duas forças motriz  que, enquanto vivos, existe em nós seres humanos:
  • Pulsão de vida
  • Pulsão de morte
       Em cada ser humano,as duas forças  coexistem entre si. Porém, é dado mais vazão a uma que a outra. Ou seja, uma das pulsões é reprimida ou deslocada, quando, não bem trabalhada. Daí explica-se o desejo de criar, produzir, construir, muito presente  em uma pessoa, cuja  a Pulsão de Vida é  mais intensa  que  a  outra pulsão. O que não significa dizer que a pulsão de morte tenha se extinguido naquela pessoa... Pois as pulsões são eternas, enquanto vive o homem, habitado por ela. Porém, podem ser trabalhadas, "lapidadas".
          Antes de prosseguirmos na pulsão, convém defini-la melhor cientificamente.
  • PULSÃO:
"Processo dinâmico que consiste numa pressão ou força (carga energética, fator de motricidade) que faz o organismo tender para um objetivo. Segundo Freud, uma pulsão tem a sua fonte numa excitação corporal (estado de tensão); seu objetivo ou meta é suprimir o estado de tensão [...]" (LAPLANCHE,2001)
          Já aquela tendência NEGATIVA  evidenciada  muito mais em uma pessoa que em outra ―mostra com nitidez a intensidade "perturbadora" da Pulsão de Morte. Refletindo inclusive   em tudo que faz, pensa, ou como lida com as diversas situações da vida; situações essas ―procuradas. Como que motivadas [impulsionadas] por um desejo destruidor ou autodestruidor muito forte.
"[...] as pulsões de morte seriam secundariamente dirigidas para o exterior, manifestando-se então sob a forma de pulsão de agressão ou de destruição". (LAPLANCHE, 2001)
        A citação acima também  é  um acréscimo a postagem anterior ao se referir  a penumbra que paira na vida de algumas pessoas independentemente de elas estarem ou não, num velório...  Como se fossem sombrias por natureza, e/ou melancólicas.
      Outras pessoas, só vivem  se estiverem envolvidas em brigas, discussões NEGATIVAS, ou vivendo permanentemente em pé de guerra... sem perceberem, que a guerra que travam é consigo mesmo, na tentativa de aliviar suas tensões, conforme destacado na  primeira citação acima [em vermelho].
      Nesse combate, vivem a morte ―na própria  vida... Assim comemoram seus aniversários, festejando a dor de existirem. E é dessa forma que passam a vida: enterrando-se dia após dia nos problemas que constroem para si mesmos, aos montes... Levando até, em alguns casos,  ao suicídio... por não se suportarem como são. Ou seja, como pessoa cheia de qualidades e defeitos. Buscam uma perfeição inalcançável... que os martirizam por meta: Mártires de si mesmos.
          Apesar de a pulsão de morte ser tão presente na vida humana, levando, segundo Freud, o homem ao seu estado inorgânico, ela é igualmente  necessária. Pois a vida voltar ao pó, como NADA, como estado zero. E é daí que  tudo se reinicia no ciclo da vida. Para fins didáticos, podemos dizer que é do pó da terra que toda vida brota e/ou  se renova para outro ciclo. Exemplo: O ser vivo que morre, transforma-se  em adubo, alimenta sementes, brota plantas, e, alimenta outros seres vivos, que,  após nascerem, também crescem, reproduzem e morrem. Prontos para começar outro ciclo na cadeia alimentar.
Enfatizando o homem, me ocorreu o seguinte  verso bíblico:
"Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela foste formado; pois és   , e ao   tornarás" (GENESIS 3:19, grifo nosso.)
RENASCENDO DAS CINZAS
           Se levarmos em consideração que tudo começa do zero, do NADA, então "ela é igualmente vontade de criação a partir do nada, vontade de  recomeço". (LACAN, 1997)

           Nesse sentido, pode-se conviver muito bem com as duas forças [pulsão de vida e de morte]... desde que estas, sejam trabalhadas em suas finalidades. Pois há várias maneiras de se trabalhar com a pulsão de morte sem que a morte seja empregada em termos literais, nem colocando em risco a vida. Seja a própria vida, ou a do outro. Nesta postagem, não detalharei "maneiras", pois não existe  "A" maneira....existem apenasss maneirasss. Maiores informações, poderei escrever um outro texto, caso haja interesse dos leitores.
No momento, julgo importante apenas acrescentar que para lidar com a pulsão, só mesmo recorrendo ao campo de TRABALHO  que percebeu  sua origem, a saber ― a psicanálise.
            Pode-se até recorrer a outras formas de trabalho, mas, a troco de efeitos passageiros ou paliativos; e isto quando não vem a mascarar o "X" da questão. Especialmente quando a vertente dada a pulsão  for  sob outra ótica, que não a científica (como a  ótica do misticismo ou da religiosidade por exemplo)  que atribuem assim,  as tendências negativas --NATURAIS--  do ser humano a explicações demoníacas.  Tipo de explicação cômoda ao pensamento. Ou seja, as pulsões humanas, visto por este  âmbito  espiritual  não necessitaria de base teórica,  bastaria apenas crer. E isso é tudo que o sistema quer: que não PENSEMOS!...
Seja o sistema capitalista, seja o sistema religioso. Ambos já foram UM, um dia. Mas este blog não se propõe a aprofundar tais pontos.
Apenas mostrar um pouco do funcionamento humano através dos fatos corriqueiros que acontecem ao nosso redor.
Antes de concluir, se faz necessário enfatisar, que faz parte da natureza humana o seu lado positivo, e o seu lado negativo. No mais amplos conceito da palavra NEGATIVO. [ver dicionário].
Não esqueçamos de que somos HUMANOS. Parece simples dizer isso, mas muita gente não se ver como tal. Ou se vê como bicho, ou se vê como deuses...e somos apenas humanos. Sem programação comportamental padrão. Dotados de desejos, vazios, fendas e falhas... apenas humanos.

         Nesta sequência de postagem que  trouxe o mesmo título, destaquei fatos do  aniversário de um amigo [1ª postagem]
Na 2ª postagem comentei sobre um velório.
E agora nesta 3ª e última postagem desta sequência, comparei estes fatos à luz da força que nos impele para a criação  da vida e/ou para o seu oposto. Assim, trazer um aniversário e um velório como fatos antagônicos entre si, creio ter sido bastante ilustrativos, no contexto onde os mesmos  foram comentados.

Lidar com as pulsões, não é tarefa fácil para muitos. Especialmente quando somos impelidos a nos comportar como anjos... Mas, não somos anjos...somos seres humanos... e precisamos nos olhar como tal. Esse olhar exige tempo, cuidado e dedicação. Investimento pessoal. Análise.

Para finalizar esta postagem, gostaria de dizer ao caro leitor que:
  •  Invista em você mesmo.
           Dedicar um tempo para si,  já é investir em SI mesmo; Isso, já é um bom começo. O começo do "zero".  Mas enquanto estiveres  considerando que qualquer outra coisa ou crença seja mais IMPORTANTE que seu próprio bem estar ―passarás ano após ano comemorando  as cinzas de uma triste fênix...Até conscientizar-se que não importa onde estás, ou em que ponto da vida parou: pois sempre, SEMPRE, haverá uma possibilidade de RECOMEÇAR do NADA.(Anderson Gomes)

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REFERÊNCIAS:

  • LACAN, Jacques. A ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997.
  • LAPLANCHE, Jean. Vocabulário da psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

2 comentários:

  1. Olá Anderson, temos que seguir a letra da música do Gonzaguinha "Viver e não ter a vergonha de ser Feliz". Bjs.

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  2. Com certeza Maria... esta letra é muito reflexiva, especialmente quando ela questiona:
    "e a vida o que é?...diga lá meu irmão!"
    Apesar de já ter citado trechos dessa música várias vezes no meu blog, quem sabe eu não posto um texto sobre a LETRA --inteira-- desta belíssima música?

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