sábado, 24 de março de 2012

A vida não é tão simples assim (01)

"O sintoma é o significante de um SIGNIFICADO  recalcado da consciência do sujeito" (JACQUES LACAN)

Há um bom tempo atrás, muito antes de eu conhecer a psicanálise, e fazer dela a minha prática, eu costumava dizer:

"a vida é simples... somos nós, QUEM a complicamos"
Mas hoje, com uma O'utra compreensão de mundo, entendo que SIMPLES mesmo ―é falar que  a vida, com toda sua complexidade, é simples.
Em se tratando de ser humano, nada é tão simples assim...

Enquanto eu andava distraído, o acaso me trouxe uma música bem conhecida que me fez pensar nesta postagem:
"Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer...
Queria ter ACEITADO As pessoas como elas são"
  Muitas e muitas pessoas passam a vida declamando o verbo "dever", especialmente no pretérito imperfeito (indicativo):
EU devia
TU devias
ELE(a) devia
NÓS devíamos
VÓS devíeis
ELES(as) deviam
 E esse "DEVER" é tão abrangente (abran-gente) que a gente, por diversas vezes, não percebe que significados está intrínseco ao verbo:
(do latim debeo, -ere)

1. Estar obrigado a.
2. Ser necessário.
3. Ter de suceder.
4. Ter dívidas.
5. Ser provável que.
6. Ter a dívida de.
7. Estar reconhecido (a alguém) por.
8. Acto. que tem de se executar em virtude de ordem, preceito ou conveniência.
9. Obrigação. (PRIBERAN, 2010)

 O interessante de se observar é que embora se chegue a conclusão de que não vale mais à pena chorar pelo leite derramado, ainda assim, continuam nada fazendo de diferente... Ou seja, ou continuam contemplando o leite, ou continuam derramando mais leite. Quem sabe na esperança de que alguém o ajude a enxugar o que ja fora derramado; ou até mesmo (e mais provável seja) que gostem de expor seu lamento cantando que:
"Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor..."
Um exemplo muito claro, é num relacionamento...
Quantas pessoas estão com o mesmo tipo de namorado(a) repetindo a mesma novelinha de sempre, após tantos anos de "experiencia"?... A vida parece simples não é mesmo?... simples mesmo seja talvez, empurrá-la com a barriga.

Outro exemplo pode ser dado em relação ao amor ao perigo. Quantas pessoas "adoOoram o perigo"...  já sofreram com assaltos, roubos, sequestros, abusos, acidentes e continuam na mesma vida perigosa de sempre... praticando o mesmo tipo de esporte, dirigindo na mesma velocidade (não recomendada), comendo o que não pode, convivendo com quem ou com o quê, lhe é perigoso.
A vida não é tão simples assim.
se fosse tão simples, bastava saber do teor da gravidade a que se expõe, para parar de beber, fumar, conviver com o inimigo e etc...
Simples mesmo, é FALAR:
―deixe de beber!
―deixe de fumar!
―deixe de usar isso e aquilo, e etc...

Mas... pra quem está na pele... não é tão fácil sair da vida danosa que leva... porque não é uma simples questão de DECISÃO... ninguém nasce pra um dia DECIDIR que 
"a partir de hoje vou fumar..."
"a partir de hoje vou ser discriminado"
"a pertir de hoje, vou fazer vergonha a meus familiares" etc...etc...etc...
A vida não é tão simples assim.
Talvez seja mais simples falar que ―É simples.
Talvez seja mais fácil viver ao acaso como continua insistindo aquela velha musiquinha do "DEVIA":
"O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído"
Para os que não conhecem essa música, e desejarem conhecê-la, eu a postei abaixo do texto, na parte das referências.

Difícil é reconhecer que precisa de ajuda... (e procurar ajuda)
Difícil é conhecer-se a SI mesmo...
Difícil é encontrar-se por acaso
Porque trabalhosa é a luta que se trava consigo mesmo embusca do EU desconhecido, que não dá-se a conhecer de qualquer jeito, porque muitas vezes, nem quer  conhecer-se... 

Deve haver um Desejo, íntimo e pessoal de busca... de lugar... de encontro....
e este encontro não está em qualquer lugar ao acaso, nem ao ocaso... mas num caso analítico de SI mesmo, que se dá num compromisso  e numa entrega do sujeito  entre as paredes do seu ser.
 Aonde se busca, é uma questão pessoal... muitos têm-se buscado nas letras, nas canções, nos blogs, nos ídolos, no sistema, enfim... em algum lugar... O importante é encontrar O lugar... o lugar do tesouro dos significantes... e encontrando ―brotarão os significados, para a vida.

E no lamento dos "devia... devia... devia...devia..." que esta música traz, que bom que alguns, mesmo que a menoria (em relação ao todo)  percebem que seu maior D-V
é:
Dar-se a
Vida... (a si mesmo).
[texto de:]
OBSERVAÇÕES e REFERÊNCIAS:

Obs: escrevi uma continuação para este texto, disponível no link a seguir:



LACAN, J. (1901-1981). Escritos. Rio de janeiro : Jorge Zahar Ed., 1998.

sábado, 17 de março de 2012

As Receitas Mágicas da Vida

Essa semana recebi em minha caixa de email, mensagens em slides (PPT) que incentivavam pessoas a saírem de suas mesmices, de suas lamúrias e lamentos, optando por uma mudança de vida.
 Tal mudança se daria simplesmente numa frase (dita de diversas formas por seus autores) :
"Vamos, levantes-se, reaja!"
    Já  observou que essa FACILIDADE tão expressa nessas "mensagenzinhas", não se constata na prática? Isto, porque com o tempo, há de se perceber pelo sujeito, que nada é tão fácil como  se é descrito. O que muitas vezes, tende a  fazer o leitor  se sentir PIOR  do que já estava. Exemplo:
    Lemos em muitas outras mensagens: a mesma intenção pintada de  formas/fórmulas (mágicas) variadas:

    "Levante-se daí, abra a janela, respire um ar puro, deixe a luz do sol entrar. Tome um bom banho de água fria, relaxe e tire um tempo pra você mesmo(a). Então  perceberá que tudo pode ser diferente quando se faz a diferença".
    Lemos várias coisas parecidas por aí, com o mesmo tempero. Claro que é válido, tem o seu sabor... poético.
    Mas na prática: o ser humano não é tão simples assim.

    Diante disso, o que dizer daquelas pessoas que ja têm uma verdadeira biblioteca em sua casa, cujos livros estão todos enfileirados numa única sessão: AUTO-AJUDA.
    De acordo com o dicionário Priberam:
    auto-
    (grego autós, -ê, -ó, eu mesmo, ele mesmo, mesmo) 
    Apesar dos livros que continuam escrevendo, os autores de auto-ajuda não cessão de inventar outras receitas mágicas ―que AUTO-ajudam tão somente a eles mesmos, que as inventaram... pois o que quer dizer AUTO-ajuda?...

    Resta-me argumentar, em quê, as fórmulas de ajuda se alicerçam para garantir que vai "auto-ajudar" alguém...

    Observemos então:

    2 copo(s) de fubá
    1 copo(s) de farinha de trigo
    1 copo(s) de óleo de milho
    2 copo(s) de leite
    1 1/2 copo(s) de açúcar
    3 unidade(s) de ovo
    1 colher(es) (sopa) de fermento químico em pó    

    Modo 
de preparo

    Bater tudo no liquidificador . Por último acrescentar a colher de sopa de fermento. Untar numa assadeira grande com buraco no meio. Polvilhar com farinha de trigo. Colocar em forno pré-aquecido, começando a esquentar. Manter o fogo médio. Assa em mais ou menos 20 minutos. 
     
     Qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, poderá fazer esta receita... é só repetir à risca a mesma receita, utilizando os mesmos ingredientes. É uma receita de bolo simples.
    Só que, o mesmo não acontece com o ser humano. Sabe por quê?
    Por um motivos simples... porque o ser humano é humano. E tem algo que os bolos não tem: MENTE, ALMA, PSIQUÊ.
    mente
    (latim mens, mentis, inteligência, alma) 
    E quando eu falo de mente, não estou falando de cérebro... mente e cérebro são coisas distintas. O cérebro é apenas um instrumento à serviço da mente.

    Quando se entende que a mente comanda o cérebro, e que um cérebro  cuja  mente não funcione ―é morto, fica mais fácil entender o por quê das receitinhas mágicas não funcionarem na vida prática. Ou seja, o cérebro (órgão) pode até receber as mensagens que lê, ouve e processa. Pode até executá-las... pode até reenviar essas mensagens às extremidades do corpo para que ele abra  janelas; se higienize, e até seja capaz  de complexidades maiores que o preparo de um bolo. Porém, o que é da alma, está num outro nível... está a nível subjetivo... Não  palpável. À exemplo disso, são os tantos comprimidos de dores de cabeça, serem apenas capazes de aliviar  a dor do cérebro ―mas não da alma.

    A mente humana é uma caixinha de mistérios e segredos. Não devemos nos substimarmos e nem nos  reduzirmos a um nível tão mecânico quanto o automatismo que a civilização nos impõe, nos tratando como se fôsemos apenas "Parafuso e fluído em lugar de articulação"
    Pane no sistema, alguém me desconfigurou
    Aonde estão meus olhos de robô?
    Eu não sabia, eu não tinha percebido
    Eu sempre achei que era vivo
    Parafuso e fluído em lugar de articulação
    Até achava que aqui batia um coração
    Nada é orgânico, é tudo programado
    E eu achando que tinha me libertado
    Mas lá vem eles novamente
    E eu sei o que vão fazer:
    Reinstalar o sistema. (Pitty)
     Trate-se como ser humano... como ser único que é. Não como um ser cujas características psicológicas são igualadas a mais um desconhecido a comprar livros de auto-ajuda.
    Tratar-se como ser humano é, entre diversas coisas, respeitar-se como tal.
    Dê a você os cuidados que você merece.
    Em vez de investir em livros e receitas mágicas, invista num tratamento sério e psicoterapêutico. Se leve a sério. Há coisas que nenhum poeta, escritor poderá traduzir... estão no INconsciente humano.

    Quando se trata de ser humano, há coisas que não é tão fácil de se fazer como ditam o conteúdo de tais frases de " efeito moral".

    Há coisas que não se resolve num abrir e fechar janelas.
    Há coisas cujas chaves são outras...


    e há coisas cuja  Coisa ―não é dita...e o não dito, é da competência da psicanálise lacaniana.

    Diz uma citação do meu mestre psicanalista Jacques Lacan(1997), que em  muito contribuiu para os não-ditos da psiquê humana:
    " A análise é uma técnica de desmascaramento, ela supõe essa perspectiva. Mas, na verdade ,isso vai mais longe.
    Para terminar esta postagem, acrescento um poema de minha autoria, para auxilixar na reflexão deste texto.

    Há coisas que não são assim tão óbvias ...
    e há outras que não são do alcance da lógica.
     
    Há coisas, das quais, 
    as Chaves que possuímos, 
    não abrem NADA.
     
    Há Chaves que precisam de um Chaveiro... 
    Há Chaveiros que precisam de uma Chave.
    Há Chaves que se jogam da  janela;
    Há outras que pulam para o esquecimento.
     
    Há chaves, que  continuam secretas,
    Há outras  que NÃO querem descobertas.
    Porém, todas elas velam e tem uma coisa em comum:

    Guardam o segredo da alma,
    A evolução do homem:

    O TESOURO DOS SIGNIFICANTES ! 
    _____________

    _____________
    REFERÊNCIAS:

    LACAN, J. (1901-1981) O Seminário, livro 7: A ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997.


    Receita de bolo, dispinívelem:


    domingo, 11 de março de 2012

    A VIDA PASSA DEPRESSA



    [poema de: Anderson Gomes]
    A vida passa "de-pressa"
    apressa-te!...
    (Eis a pressão a oprimir)

    e na depressão que a espera
    a vida  acelera
    às garras do tempo ― a fera!

    A vida passa de-pressa
    em de-pressão à ruir...
    E nessa ação a espreita
    Estreita-se o tempo ―à urgir.

    A vida passa depressa
    e de repente
    se foi... já era

    não mais dores
    não mais pressa
    nem choro,
    nem prece

    A vida apenas decresce
    e escorre às avessas
    Onde o tudo é nada
    e ao Nada se decompõe

    Onde a vida, decaída,
    não mais se opõe  a morte
    Ambas ―uma só.

    Não há vida
    Não há morte
    Mas apenas  a Coisa:
    ―O Resto

    O que restou da vida
    O que restou da morte
    O que restou da sorte
    de todo aquele  que  para lá caminhou ―às pressas

    A vida passa depressa...

    ―Para quê? 
    Para que tanta pressa, e dela, o que vais fazer?

    A vida para quem a tem, pode ser linda
    pode ser calma
    Pode ser tudo
    e pode ser Nada

    Pode  ser o que dela quiseres fazer.

    Eis o desejo em tuas mãos...
    Nele ―há vida
    Nele ―há morte
    Trabalhe-se...

    A vida passa depressa...SE depressa passares por ela!
    [por: Anderson Gomes]

    segunda-feira, 5 de março de 2012

    Qual o sentido da Vida?

    Olá pessoal?
    Antes de iniciar meu texto, gostaria de solicitar a vocês que participem da enquete deixada aí na coluna ao lado. Se você ainda não votou, escolha um TEMA, que poderá ser assunto da minha próxima postagem. Dessa forma, você também estará contribuindo com este blog. Ok?
    Agora, vamos ao texto.
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    Por várias razões, ao longo da vida,
    o ser humano tem experimentado, ou trocado experiências, muitas vezes nocivas ao seu bem estar psicológico, ou fisiológico. E quando eu digo NOCIVO, me refiro as consequências que podem ocasionar  distúrbios e/ou transtornos a vida psiquica do sujeito.

    Muitas dessas experiências se dão por curiosidade, especialmente na infância, quando a criança ainda está descobrindo o mundo à sua volta. Mas, e quando esta curiosidade deixa de ser curiosidade para se tornar um "hábito"?

    1. Há aqueles que se expõe a perigos cada vez maiores...
    2. Há aqueles que se colocam em situações de risco "enovadores"...
    3. Há aqueles que se propõe a experimentar sensações cada vez mais estranhas fora dos seus habitos anteriores.

      Todos esses exemplos enumerados  vão de esportes, atividades ou situações exóticas, à exemplos de substâncias até mesmo alucinógenas. Se bem que, atualmente no mundo em que vivemos, encontram-se mais alucinados  cibernéticos (e/ou midiáticos), que alucinados por substâncias  psicoativas.

      Perguntar qual das situações podem trazer  sérias consequências, à longo prazo, ao psiquismo humano, seria, no mínimo, um bom questionamento... talvez para uma outra postagem. No momento, fica aí a reflexão.

      Mas diante de tanta exposição aos  perigos e riscos (de todo gênero), eis a pergunta que não quer calar:
      ―O que  um sujeito  busca  se expondo tanto a tais situações ?

      Para alguns, seria fácil a resposta, pois a mesma viria automática:
      ―ADRENALINA.
      Outros diriam:
      ―Um sentido na vida.

      Sentido e adrenalina... dois significantes, aparentemente des-conexos, mas que se entrecruzam no SENTIR.
      Logo, subtende-se que a adrenalina vem a dar um sentido a uma vida sem sentido... Sentido este encontrado em situações buscadas ou provocadas, ONDE este "sentir" possa ser mais aguçado.

      Logicamente este ONDE, abre um cardápio bem variado de alternativas, que sempre estarão se alternando... até chegar a um ponto (um?) em que  o sujeito  alterne seus sentidos involuntariamente, de modo que não mais responda  por eles conscientemente.
      Poderíamos fazer uma imensa lista desses  exemplos, mas darei apenas alguns, deixando para os leitores, a possibilidade de acréscimos. Segue então, em ordem alfabética:
      • Compras e mais compras
      • Dívidas intermináveis
      • Drogas cada vez mais pesadas
      • Paixões inacabadas
      • Perigos cada vez mais arriscados
      • Vários relacionamentos amorosos
      • Uma diversidade de relações sexuais insaciáveis
      É óbvio que nem todos esses exemplos encontram-se em uma única pessoa. Mas não se surpreenda, caso encontre alguém que se alterne por entre essas  práticas, pois em muitos casos, uma chega a ser a consequência da outra; e havendo um reconhecimento por parte do sujeito, deve-se buscar ajuda psicológica... Pois se a busca é pelo SENTIR, questiona-se:
      • O que é SENTIR para este sujeito?
      • E qual SENTI-do busca-se para SI mesmo?
      E embora a conclusão de questões como essa pareça clara para alguns, e óbvia para outros, nem sempre há essa mesma facilidade para a maioria das pessoas.
      Maioria?...
      Sim, maioria, pois é cada vez mais crescente o número daqueles que mergulham em:
      • Compras e mais compras
      • Dívidas intermináveis
      • Drogas cada vez mais pesadas
      • Paixões inacabadas
      • Perigos cada vez mais arriscados
      • Vários relacionamentos amorosos
      • Uma diversidade de relações sexuais insaciáveis
      Em busca de QUÊ???
      De um sentido para vida... ou para o seu oposto, visto que, no mais amplo contexto desta frase, pode-se concluir que: o ser humano nasce, cresce, reproduz e morre.

      Mas durante o percurso da ex-istência humana, 1001 coisas podem dar a este mesmo sentido uma conotação mais saudável, equilibrada, qualitativa, e muito mais produtiva. Até mesmo as árvores produzem frutos... e dependendo do solo onde estejam plantadas, o(s) produto(s) derivados de sua espécie, podem ser bastante proveitoso(s).

      Mas há uma enorme diferença entre seres humanos e vegetais (embora, muitos seres humanos se comportem como tais); para cuidar de minerais e vegetais ―há toda uma tabela e fórmula, prontamente pre-estabelecida e direcionada a cada espécie.

      No ser humano nada é pre-estabelecido, pois cada caso é um caso e cada ser é um ser. Não dá pra sair por aí receitando ou estabelecendo tabelas, visto que por mais que se  tenha tentado, como  cientistas fizeram com o PROZAC, ainda não inventaram a fórmula da FELICIDADE, isto porque, a felicidade (se existir) não tem fórmula. O que pode ser a felicidade de Um, pode não ser a felicidade de Outro. Que garantia se tem de ser ou não ser ? Eis a questão!

      Vale à pena acrescentar, que se a felicidade fosse palpável, visível, e deglutível, seria chamada por muitos de adrenalina. Mas será que isso tem mesmo a ver?

      A adrenalina é um hormônio, presente e secretado por uma molécula das glândulas supra-renais, e é liberado em resposta ao stress físico ou mental. Apesar disso, nem todo ser humano de glândulas supra-renais  saudáveis,  sente-se feliz, mesmo estando exposto a uma situação onde o nível de adrenalina esteja quase sempre muito elevado. O que quer dizer, que a felicidade não é hormonal, e nem depende deles. Parece besteira, mas vale muito à pena salientar este ponto neste contexto, visto que, é sob esta justificativa, que muitos se colocam em situações muitas vezes  não situadas em seus contextos de histórico de vida.

      A felicidade não tem nome... não tem uma morada, não tem um lugar... muito menos uma receita ou bula, portanto  não se formula, nem se prescreve. Mas pode ter um sentido...

      O SENTIDO QUE VOCÊ DER A ELA...
      E o sentido, nem sempre está a nosso alcance... se estivesse, já teria sido encontrado nas inúmeras :
      • Compras e compras
      • Dívidas intermináveis
      • Drogas lícitas ou ilícitas
      • Paixões inacabadas
      • Perigos e riscos
      • Relacionamentos amorosos
      • Relações sexuais 
      Isto é uma prova de que o ser humano não é tão simples assim... e que não pode ser encapsulado, preescrito e receitado em suas emoções.
      O ser humano é um ser sempre em construção, assim como todo SIGNIFICADO dado, por ele mesmo, a sua vida.
      ____________________________________________________________________________________
      texto de:

      domingo, 4 de março de 2012

      MAIS DO MESMO

      Mais do mesmo

      TENDÊNCIA:

      "Tendência" do latim tendentia :significa tender para, inclinar-se para, ser atraído (a) por algo que chamou a sua atenção.

      Como diria Cássia Eller: "mudaram as estações, e... nada mudou... mas eu sei que alguma coisa aconteceu... tá  tudo assim, tão diferente..."

      É uma lipo aqui, uma cirurgia ali, outra "correção" acolá.
      É a cor do cabelo, é a cor dos olhos, é o sexo do bebê.
      O que mais se poderá escolher?...ah sim, já ia esquecendo: ―os parceiros (as). Nesse caso seria mesmo uma escolha, ou uma troca?

      Troca-se também de sexo, no mais amplo contexto da palavra sexo.

      MUDA-SE:

      O amor (os amores)
      A moda, (as modas)
      O modo (os modos)
      A cor (as cores)
      o adeus (as dores)

      Adeus a tendência ao mesmo,
      mesmo quando o _mesmo_ promete mudar
      Mudar para mais do mesmo,
      As mesmas mudanças e as mesmas escolhas.

      Hoje escolhe-se mudar
      e amanhã... mudar também...
      e depois de amanhã, mudar outra vez para uma nova mudança que acaba sendo a mesma velha idéia  "muda".

      Emudecida... é cada vez mais baixo o nível de mudança, onde tudo e todos estão  colocados em um só patamar:

      • Muda-se de carro,
      • de casa
      • e parceiro
      • Muda-se de amores, de país, e de pandeiro
      • Muda-se até a raíz e cor do  cabelo
      Mudar rende muito
      para quem vende, e para quem entende que o:
      O NEGÓCIO é mudar!

      Mudar é lucrativo
      e ao mesmo tempo danoso
      movidos pela inconstante  tendência de mudar


      A tendência de Um, move a tendência do outro
      Como se esse outro fosse Um, sem aparência, sem identidade.
      • Quando chega a idade, o negócio é mudar...
      •  Quando chega o inverno, o negócio é mudar...
      • Quando chega o verão...o negócio é mudar...
      • Mas quando  chega o outono, o negócio é mudar...
      • Muda-se toda a prima-Vera, toda a prima Lúcia,  todas as Josefa e Marias vai com as outras...(mas estas, continuam as mesmas).
      Muda-se o Ken, o Boby, e a Barby... em busca do tudo  que você quer "ser".

      Muda-se até não mais se reconhe-cer.
      Muda-se... mudando de homem para máquina humana
      fabricando uma demanda que não se sabe o quê... nem em quê mudar...
      Mas... quem quer saber?

      Nessa busca incessante de mais do mesmo
      O ser do humano continua  INSATISFEITO
      fabricando  desculpas para as culpas que carrega
      e  sedativos para a sua dor

      Uma dor muitas vezes mergulhada em embrulhos, que se debulha  em lágrimas disfarçadas em sorriso maroto.

      Nessa aparente mudança de novas tendências, muda-se o nome, o estilo, a posição e o lugar... sem saber mais  em que lugar ocupar... pois este mesmo humano, como ser, nunca esteve em lugar algum, a não ser aquele que perdeu-se  no tempo e no espaço de sua própria história, e que o  impulsiona a esta eterna busca... eterna busca de SI mesmo.

      Busca esta que impulsiona  os nobres ciganos das grandes metrópoles―a
      Ciganos da Metrópole
      alimentarem o engano e o engodo de suas  almas.

      Quem sabe assim, as mu-danças os acalmam
      no mesmo compasso em que se descompassam.

      Está na hora de mudar! (Que paradoxo, rsrs)
      precisa-se urgentemente, mudar esta nova tendência de MUDANÇA que muda a todo instante como uma compulsão a mudança.

      Abre-se aí um leque de subtópicos, para podermos destricha-los em outras postagens. Pois em se tratando de compulsão, falamos também de neurose obsessiva compulsiva.
      E em se tratando de mudar, mudar, mudar, podemos falar também de um outro tipo de neurose que faz manutenção de sua INSATISFAÇÃO, a saber, a neurose histérica. Mas, no momento ficamos por aqui mesmo, oferencendo apenas, uma reflexão a essas mudanças, que muitas vezes é do Outro, ou dos outros, e não tua... atente a isto.
      Qual é a mudança que se busca?
        • Será que é de objetos palpáveis?
        • Será que é uma mudança externa?
        • Será que é uma nova tendência?
        • Será que é algo necessário ou desejado? (há diferenças)
        Fica pra você pensar.
         e buscar em suas próprias respostas, seu próprio rítmo, e seu próprio movimento.

        Por outro lado, o mesmo paradoxo se alerta:
        Precisa-se mudar  essas tendências alienantes de seguir as mudanças do outro, no outro e para o outro.
        Mu-danças essas que segue o passo e a dança alheia, ao mesmo tempo em que se anula os próprios pés  do sujeito, e a  finalidade dos mesmos.

        Está mais do que na hora de atentar para aquilo que não é do campo externo, e trabalhar o que entende e  se es-tende às pulsões humanas
        (Pulsões, que por si só, são INconscientes, e que demanda uma escuta, uma expressão).


        Concluo dizendo que  a verdadeira mudança não é externa, e não está fora no ser.
        Mas se de dentro pra fora, quando dá-se a se conhe-cer.
        E dar-se a conhecer, implica, antes qualquer outra coisa, num compromisso íntimo, e individual, consigo mesmo.

        Busque-se... o resto, é con-sequência, de uma sequência que só tem significados fora da cadeia (in)significante do discurso capitalista!
        (o discurso é O'utro.

        [texto: Anderson Gomes]
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        Referência.

        TENDÊNCIA In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Tend%C3%AAncia>  Acesso em: 4 março 2012.