terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Desejos à céu aberto

- O que seria de nossa sociedade oprimida e, ao mesmo tempo, opressora, SE, ao menos, uma vez ao ano, não pudesse extravasar suas cores, suas dores, seu riso contido, seu risco assumido; seu desejo latente?
- O que seria de nosso povo sofrido e explorado, SE, ao menos uma vez ao ano, não pudesse trazer à luz do dia suas fantasias "noturnas"?
- O que será das pessoas amargas, se não forem tratadas, se não largarem suas cargas, para, ao menos, uma vez ao ano, esquecerem suas armas sempre apontadas?
- O que será de quem já não sabe mais soltar uma altíssona gargalhada?
- O que será do riso frouxo e da alegria não calculada?
- O que será dos fiéis guardiões da folia e das palhaçadas?
- "O que será, que será?
O que não tem decência nem nunca terá
O que não tem censura nem nunca terá
O que não faz sentido" (BUARQUE, 1976).
- O que será da moral e dos bons costumes?! - exclamam os acostumados.
Diante disso, vale à pena lembrar que:
COSTUMA-SE, pelo menos uma vez ao ano, dar-se uma folga; dar-se um afago; dar-se um "à tôa"; entregar-se a SI mesmo; dar-se uma trégua e ficar numa boa à céu aberto...
Pois já temos todos os outros dias úteis do ano para ocupar-nos com todas as outras coisas certas e incertas.
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Texto: Anderson Gomes
[psicólogo clínico]