sábado, 23 de junho de 2012

capacidade X sexualidade

         "As barreiras sociais nos cegam"(GOLEMAN,2006)

 Tema de hoje: SEXUALIDADE.

Olá?
Hoje falaremos sobre SEXUALIDADE. Tema que ainda está associado a capacidade física dos seres  humanos por sua cultura.

Você bateria no seu jogador favorito por conta disso?"
[Para maiories informações sobre esta notícia, o link estará disponível ao fim deste texto]
          Achei muito boa a iniciativa da ONG alemã que distribuiu cartazes pela Polônia e Ucrânia, países que sediam a Eurocopa,  numa tentativa de diminuir o preconceito contra os gays no futebol. O cartaz traz a imagem de dois jogadores que aparecem se beijando ao lado da frase: "Você bateria no seu jogador favorito por conta disso?". A peça foi colocada nos arredores dos estádios onde estão sendo realizados os jogos. Vale lembrar, que tanto a Polônia quanto a Ucrânia são bem pouco tolerantes com relação aos homossexuais.
           Diante disso eu pergunto: Polônia e Ucrânia, são menos intolerantes que o Brasil? Já pensou se os mesmos tipos de cartazes fossem expostos aqui? Aqui no Brasil é muito bonito as pessoas dizerem que não são racistas, que não são homofóbicas ―em público. O mesmo já não acontece na conduta particular de seu dia a dia. O mesmo também não acontece na frente das câmeras. Para enfatizar  o foco sexual do meu texto de hoje, separei um vídeo apresentado no programa CQC, onde com muita competência, Rafinha Bastos  mostra, de maneira nua e crua, como uma opinião pode ser mascarada e des-mascarada na frente e por traz  das câmeras.

"Quando a luz se apagar, e a porta se fechar, quem poderá dizer 
quem é quem?" (SAMADELLO, 2012)"

          Poucos repórteres como Bastos, tem a audácia e a firmeza  em abordar temas tão polêmicos como ele só. O que, em nenhum momento diminuiu sua competência profissional, ou comprometeu sua sexualidade, seja ela como for. Vale à pena fazer uma pausa no texto e assistir ao vídeo...  pois a leitura do mesmo também se relaciona com este conteúdo.


            Todas essas opiniões colhidas na entrevista do vídeo, me fez lembrar da estrutura psicodinâmica do ser humano. Todo comportamento manifesto, é aquele coerente com as exigências sociais. São conteúdos que  em psicologia que chamaríamos de  conscientes. Mas tudo aquilo que de fato É, e que  se passa nos bastidores, por traz das câmeras: metaforicamente chamaríamos de  Inconsciente...  Constatamos então, que a opinião emitida e omitida por traz das câmeras  ―demonstra muito mais do que foi dito na frente delas. Ou seja, demonstra que existe muito material guardado abaixo de cada camada de nossa vida, longe de qualquer  holofote. Por traz dos holofotes, ninguém conhece ninguém. Muito menos debaixo de cada lâmpada fluorescente quebrada em homossexuais agredidos com este tipo de violência, como aconteceu em São Paulo um tempo atraz.
 [Para maiories informações sobre esta notícia, o link estará disponível ao fim deste texto]
[Para maiories informações sobre esta notícia, o link estará disponível ao fim deste texto]
           Apesar disso, acredito que pior que essas cenas cada vez mais recorrentes,  é o drama de quem nega a sua própria sexualidade em favor da sexualidade dos outros...  Claro que ninguém é obrigado, e nem deve ser obrigado a sair por aí declarando-se gay. Mas para os que assim o desejam declarar-se: falta abertura, espaço, direitos. Ao heterossexual, é dado o cabimento de arrotar sua virilidade; de mostrar  o quão é pegador para a sociedade que o cobra tal postura; de exibir o gesto da mão no saco escrotal por ocasião de coceiras súbitas; de gritar o quanto caçou na noite como exímio caçador; e mais que isso: dizer o que fez e o que não fez com suas "presas". A mesma postura, já não é permitida para as mulheres, e muito menos para homossexuais.
         Será nosso país, mais intolerante que outros países?
Que tipo de país estamos construindo? O país das diferenças?... ou das indiferenças?
         Me pergunto até onde estamos colaborando com este tipo de pensamento que reforça essa cultura retrógrada. Até onde consentimos e fazemos o mesmo. Até onde nos omitimos em benefício do Outro....e para o conforto do Outro. Consequentemente, pergunto: Até onde nos ANULAMOS, e ignoramos o nosso desejo?
Tal raciocínio   deduz, que essa negação esteja relacionada ao bem estar do Outro.
"A mim não importa ser a sombra
Quando você é a figura
Ser a situação
Quando você é o assunto"(ORLANDO MORAIS)
  • Pensar que se NEGA para AFIRMAR  o O'utro ―é um desejo de quem? Do sujeito ou do O'utro? 
  • Nesta perspectiva, não estaríamos falando de ALIENAÇÃO?
  •  
          Somos todos prisioneiros do sistema, diriam alguns. Mas que sistema? Pergunto eu. Do sistema capitalista? Do sistema de governo de nosso país? ou prisioneiro do sistema psíquico?
          Para Lacan (1979), nascemos no campo do Outro. Sendo o nosso primeiro grande Outro ―a mãe.  É através dela que entramos em contacto com o desejo. Desejo dela. E o nosso? O nosso, acaba sendo o desejo dela. Somos levados a satisfazer como filhos, a todos os seus desejos e faltas maternas. Daí, e desde então, a busca do IDEAL inalcançável... Ideal que sempre será outro... e outro e outro... vindo a perde-se cada vez mais na eterna busca do desejo desconhecido. Assim, o sujeito cresce em busca daquilo que não sabe. Ou seja, não sabe  o  que quer  na vida...se ser um bom médico, juíz, professor, ou qualquer outra coisa. Porém ele sabe de uma coisa: quer ser RECONHECIDO. E quem não quer ser reconhecido?...Cabe, então, enfatizar que todo RECONHECIMENTO depende de um outro...mas não um outro qualquer, mas ―um grande O'utro: alguém de referência, alguém por quem se tenha consideração. E é na busca desse reconhecimento que o sujeito se perde de si, e não mais se reconhece. Em outras palavras:
Há toda uma dificuldade de se fazer reconhecer pelo Outro. Mesmo porque, nessa busca de reconhecimento o sujeito acaba  se submetendo ao desejo desse Outro. Essa submissão pode vir a sufocá-lo, e a anulá-lo  levando esse sujeito a alienação.  Isso pode ser exemplificado com a famosa expressão bíblica tão levada ao pé da letra (literalmente) por muitos cristãos --fanáticos-- por  não saberem entender o que quer dizer  o "eu não sou mais eu, mas Cristo vive em mim"
Este tipo de "entendimento" é também exemplificado na mais linda declaração de amor em que se consta expressões como esta:
"eu não vivo sem você"
"eu sem você não sou nada".
É lindo, é poético, é até sonoro... mas só expressam o estado mental de quem não sabe mais quem é ou o que é  como pessoa ―pessoa dotada de desejos, sentimentos, gostos e outras singularidades que nos diferem um dos outros.
           Parece que vive-se em mundo disposto a adequar o ser ao mundo. Mas que mundo? Da maneira como projetam este planeta, viver nele parece ser um constante desafio, onde a lei da da sobrevivência é a lei das aparências. Mas... as aparências enganam...
Engana-se quem acha que jogadores e atletas, por exemplo, não possam contribuir para a vitória de seu time.
  • Engana-se que a força se dá, ou está na sexualidade dos sujeitos.
  • Engana-se que a capacidade de um jogador de futebol gay se diminue quando ele "arrota" sua sexualidade,ou coça o saco, da mesma forma como o hetero arrota a sua numa mesa de bar.
  • O que o diminue é o olhar do Outro... que figurado no olhar das torcidas,  xingam, cospem, vaiam, e repudiam qualquer tipo de jogador que não esteja em conformidade com os valores impostos a tradição heteronormativa.
Uma destas posturas, se assiste no seguinte vídeo de 24 segundos, a seguir:


SE FAZ REALMENTE NECESSÁRIO COLOCAR NA BALANÇA A CAPACIDADE E A SEXUALIDADE DE UMA PESSOA?

     
 É  através das escolhas que fazemos, que podemos dar MAIS ou menos peso àquilo que consideramos IMPORTANTE na vida. (Anderson Gomes)
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LINKs das notícias mencionadas:

domingo, 17 de junho de 2012

―Seu cachorro!


Tema de hoje:
Relacionamentos
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           Assistindo o programa "Saia Justa" do canal GNT, me inspirei para escrever algo sobre relacionamentos nesta postagem. Numa conversa informal, clima que ambienta o programa, uma das convidadas ali presente,  comentou um email que uma telespectadora enviou ao programa trazendo o seguinte assunto:
        Ela e seu marido adotaram um cachorro para alegrar a casa, uma vez que não queriam filhos no momento. O cachorro era muito amado, mas  com o passar do tempo, o mesmo passou a ser incômodo para seu marido, que segundo esta espectadora, "estava quase surtando em ter que limpar o xixi e o cocô" do animal; animal este que não era tratado como tal. Então, levantou-se uma DÚVIDA em seu íntimo : se o esposo seria um bom pai, quando ambos tivessem um filho. Afinal "com que paciência ele trocaria as fraudas?"...Gerou-se uma grande polêmica rsrs A entrevistadora Mônica Waldvogel deu seu ponto de vista sobre a questão: Ela também tivera um cachorro, e embora gostasse muito dele, nunca esqueceu que ele era apenas um cachorro.

        Aqui estamos para falar sobre isto  como um dos temas propostos na enquete ao lado. Aliás, antes de prosseguirmos, gostaria de solicitar ao caro leitor, que dê uma paradinha na leitura para  votar em um dos temas, caso ainda não tenha colaborado com a enquete de sugestões.

        Sendo o ser humano um ser marcado pela linguagem, ele pode  não só reproduzir essa linguagem, mas criá-la, dando outros significados e conotações a algo já existente, e pré-estabelecido, por exemplo. Isto, por si só, já nos difere dos animais. Animais não cria, apenas reproduz. E quando cria um ninho, um novo buraco, um esconderijo, está apenas reproduzindo a sua programação biológica e  instintual. O ser humano, por mais que seja um ser biológico ― é também um ser "bio-lógico". Embora sua lógica esteja sempre em falta. Falta esta que aponta para o vazio, o furo, a lacuna que os animais não sentem e não buscam preencher, por mais que passem a vida cavando  e escavando seus buracos. Enquanto os buracos desses animais sejam externos, buscando instintitvamente proteção e abrigo; o buraco do Homem são os seus vazios, e, portanto ―internos.
Tudo que nós seres falantes viemos a produzir, aponta-se para buracos, por mais que tentemos tampá-los ou tamponá-los.
          Falar com um animal como se fosse gente, implica em algumas considerações. É antes de tudo uma escolha.  Sendo uma escolha, logo, há significado. É só porguntar ao dono de um animal os por quês deste modo de interação com animal através da fala que ele saberá responder. O mesmo não acontece com o animal. Ele não sabe dizer  por quê  late, e não mia ou rosna. Ou mais que isso: não sabe dar significados ao seu latidos. Ou seja, não sabe significar. Dando duas opções de comida para uma pessoa, ela se põe na dúvida de qual comer, mesmo que no final das contas coma as duas porções na tentativa de saciar, não a sua fome, mas a sua dúvida ―sua lacuna humana.  Já o animal não pensa, e portanto, não duvida, logo, come duas ou mais porções sem questionar sabores, aromas ou quantidades.

[obs: Me refiro nesta passagem aos cachorros  mais comuns, e não aqueles "luxentos" acostumados a ração ou filé mignon. Mesmo estes cachorrinhos de "madame" se passarem uma semana perdidos na rua, comerão de tudo para sobreviver, de acordo com seus instintos. O mesmo acontece com os chamados "vira-latas". Cachorros como esses, podem adiquirir um paladar tão  refinados quanto os de raça, desde que  sejam dadas  condições necessárias para um paladar  mais apurado.] 
          Ao animal, opta-se comunicar, através da fala, da voz e suas interjeições. Mas optar-se por comunicar, deste modo, não quer dizer que se faça comunicar.
Eu me faço me comunicar com você leitor, através destes escritos... o que não dá garantia de me fazer entender... Mas eu sei que o mau entendido faz parte daquilo que é humano.
           Há uma DÚVIDA no primeiro parágrafo deste texto, no contexto da espectadora que não sabe se seu esposo será bom pai, quando ambos tiverem um filho. Cabe aqui alguns questionamentos:
  • Ser dono e ser pai tem os mesmos significados para você?
  • Ser dono de um animal e ser pai de uma criança traz as mesmas implicações?
Poderíamos a partir dai, pender para as relevâncias paternas numa relação familiar. Mas não é o foco deste texto que visa relacionamentos, embora ainda não tenhamos tocado no ponto chave da questão ainda.

        Qual a intenção quando se busca adotar um animal, NO LUGAR de ter uma criança, seja lá por adoção ou por vias reprodutivas?
  • Que lugar é este ―o da criança?
  • Que lugar é este ―o do animal?
  • Ambos estão no mesmo lugar?
         Em muitos casos "SIM"... criança e animal estão no mesmo lugar, especialmente num mundo onde crianças vivem como bicho. Mas, mesmo neste lugar  "animal", a criança, como ser humano que é ―sabe responder ao seu meio habitat de acordo com os estímulos que a cercam. Ou seja, a criança, por mais que seja tratada como animal, é marcada pelo resto de sua vida com as palavras [significantes] que são descarregadas nela. E mesmo que viva alienada ao significante do O'utro, esta "criança-bicho", tende a ver o mundo pela ótica alheia. Ou seja, a ótica dos outros. Cresce-se assim, uma criança que não sabe onde é o seu LUGAR  no mundo. Uma criança que mais tarde será um adulto perdido... perdido entre tantos significantes. Perdido especialmente nos significantes das propagandas comerciais. Ou seja, naquilo que o comércio propaga.
"...os significantes são realmente encarnados, materializados, são palavras que passeiam e é como tais que elas desempenham sua função de acolchetamento" (LACAN, 1985)
Não nos aprofundaremos no ponto comercial mencionado, porque não é o foco desta postagem. Caberia ainda neste texto falar sobre a criança psicótica, mas isso desviaria um pouco do tema, pois o mesmo se desdobra  sobre SIGNIFICANTES e SIGNIFICADOS. Mesmo que eu pudesse falar um pouco mais  que:
―Para criança psicótica faltou o significante  do Pai.
Mas... voltemos para os significantes destas linhas.
          Atualmente, está se  dando aos objetos [objeto -no sentido mais amplo da palavra] novos significados na tentativa de preencher os VAZIOS da alma... tentativas frustradas que logo desaguam em qualquer relacionamento: pessoal ou conjugal.
          No e-mail enviado aquele programa, não se fala de quem FOI a iniciativa de adotar um animal de estimação. Mas se fala em "alegrar o ambiente". Se fala em adotar um cachorro no lugar de uma criança. E por quê?
Poderíamos pensar que:
  • Será que dá menos trabalho?
  • Será que foi pelo fato de o animal não saber significar? (Embora tivesse ali um significado embutido no LUGAR ocupado por ele)
      As respostas poderiam e podem ser várias... não cabe aqui encerrá-las ou dar um sentido para a demanda de uma espectadora que talvez nunca venhamos a conhecer ou ouvir a sua fala pessoalmente. Há muitos psicanalistas, ou psicólogos que fazem suas interpretações selvagens. Mas como eu trabalho com psicanálise lacaniana, os significados estarão sempre abertos a novos significados [dados pelo sujeito da fala]. No máximo poderemos levantar uma hipótese apenas para nos fazer refletir.
"É o significante que domina a coisa, pois no tocante as significações, elas mudam completamente" (LACAN, 1985)
       O drama do casal em questão, TALVEZ, se dê pelo fato de que ambos tenham significados diferentes quanto ao LUGAR da criança, e quanto ao LUGAR do animal. Significados esses que não só diferem no sentido, mas também no tratamento dado ou destinado para cada respectivo objeto. 
[obs: Importante lembrar para o leigo nas áreas científicas que a palavra OBJETO empregada aqui, tem um sentido mais amplo].
Por haver nitidamente essas diferenças, não pode-se julgar com base nisso, se aquele marido  será ou não um bom pai. Ou seja, o que o fará bom ou um péssimo pai terá mais haver com outras características intrínsecas à sua pessoa, que com o LUGAR que ele reserva a futura criança. Em outra palavras,  o LUGAR que  ele, como futuro pai preserva para seu filho, não é o mesmo LUGAR dado  àquele animal por sua dona... ou seria "mãe"???
          Saber qual LUGAR ocupamos na vida, e na vida do O'utro, vem ser sumamente importante para não afogá-lo com nossos próprios significantes ou absorve-lo em nossos próprios significados.
          Nesse sentido, muitos relacionamentos caem em ruínas [in]significantes, porque o casal, muitas vezes, mal sabe o que é SEU e o que é do OUTRO. Submersos em SI MESMOS, chegam a apelar  para um outro mais alienado que eles mesmos, nesse caso: um cachorro.
         Talvez, O LUGAR estivesse desde sempre VAZIO...
Talvez nunca estivesse ocupado. O e-mail daquela espectadora também não informa de quem partiu a decisão de não ter filhos. Decisão esta que deu origem a outra: a de adotar um cachorro. Mas a decisão de não ter filhos, não impediu de A-PARECER o lugar... o Lugar disponível para ser ocupado... ou para permanecer vazio... a agonizar  por quem venha  alegrar a casa...ou a ALMA... (eu diria)... na tentativa de preencher seus "buracos".

domingo, 10 de junho de 2012

Um assunto PARTICULAR

De onde viemos? e para onde vamos?

Desde que o mundo é mundo, estas duas perguntas vem se tornando o FOCO da busca de sentido da existência humana.
Ter um livro de respostas, ajudaria?
ajudaria em quê?

Ter alguém que, nos telejornais, nos diga se vai chover ou fazer sol ―é imprescindível para muita gente.
Ter uma revista ou um site de horóscopo que nos diga como será o dia de amanhã ―é igualmente importante para milhões de pessoas.

Como nós viveríamos se soubéssemos o dia da nossa morte?
Como viveríamos estando em contagem regressiva?
Que sentimentos  acompanharia a todos nós?

Se você, caro leitor,  reler o texto do primeiro até o presente parágrafo, perceberá que ele foi todo escrito no plural, e de maneira generalizada, e, no contexto coletivo. Releia-o por favor, antes de entrarmos no próximo ponto.

No princípio era o verbo... (Joao: 1:1)
As palavras são feitas justamente para distinguir as coisas, já dizia Lacan (1985). A palavra distinguir, perde-se em meio a tanta igualdade de gênero. Ninguém mais trata as crianças como crianças; nem ao idoso como ser vivo; o negro como humano; o gay como cidadão; as mulheres como sexo oposto ao homem; os deficientes físicos como parte integrante da sociedade, assim como os gordos e obesos. Talvez porque essas classes, muitas vezes, já  não se distinguam mais enquanto seres distintos, que são.
Nesse raciocínio, cabe recorrer ao dicionário, para enfatisar o sentido dado ao termo:

distinguir:
  • 1. Não confundir.
  • 2. Estabelecer ou conhecer a diferença que há entre pessoas ou coisas.
  • 3. Ver claramente (ainda que de longe), avistar.
  • 4. Perceber, ouvir.
  • 5. Notar.
  • 6. Marcar, assinalar.
  • 7. Discriminar.
  • 8. Caracterizar.
  • 9. Fazer distinção (de pessoas).
  • 10. Tornar-se distinto. = ASSINALAR-SE  (PRIBERAN, 2010)
  • O que seríamos se pudéssemos ter todas as respostas?
  • O que seríamos se pudéssemos ter tudo que quiséssemos?
  • O que seríamos se pudéssemos SABER do dia de amanhã? Seríamos humanos?

Esta é a grande questão... saber o que somos parece simples, mas esta aparente simplicidade tem levado a muitos civilizados a um comportamento animalesco ou quase vegetal.
Na lei da selva: sobrevive o mais forte.
E na lei cívil?...é diferente?
Estamos, como humanos, dando um outro significado ao HUMANO.
O ser humano nasce, cresce, reproduz e morre... e tudo aquilo que deveria distingui-los dos outros seres ―perde-se em meio a sua própria pluralidade.
  • As várias tendências da moda;
  • as muitas necessidades  físicas;
  • os inúmeros objetivos da vida;
  • os indescritíveis sentimentos manifestos, os muitos outros latentes e,
  • os diversos tipos de comportamentos humanos ―confundem  o ser humano  que ao longo de sua própria existência, desespera-se por NÃO SABER o que fazer.
E eis o que nos marca como humanos: o não-saber... a falta... o desejo.

"O desejo é sempre enigmático e por isso mesmo ele apela ao SABER, constituindo assim o sujeito articulado a um desejo de SABER" (QUINET,1951)

É o não saber que nos motiva ao SABER...saber este que não sabe o que quer saber. Sabe-se porém, que este enígma vem sendo simplificado na padronização de condutas. Condutas estas nada sábias, insanas e impensadas.
Foi o que levou mulheres às fogueiras numa época em que a morte parecia ser a única sentença por desvios de conduta à moral cristã.
Foi o que inspirou Hitler a desenhar uma nação de um só pensamento, de uma só cor e de uma só voz: a sua voz!
É o que tem levado milhares de pessoas, em pleno século 21, a serem vítimas de todo o tipo de bullying por não se adequarem à fita métrica do peso, altura, forma, cor e sexualidade imposta.

Por traz de toda essa ditadura da beleza  existe o DESEJO, o desejo de ser... mascarado pelo desejo de TER.
"Quem TEM conhecimento É o cara!"... em outras palavras, quem tem conhecimento tem tudo. Tem?
Felizes eram os índios, antes da invasão do homem branco...Que em sua sapiência dizimou milhares de aldeias em nome da sua ganância de TER o do outro pra si.... para si ―animal irracional.
A ganância de TER sempre mais,e mais, TEM tem levado ao homem civilizado a um comportamento animal. Se o animal mata para sobreviver conforme seu instinto, o homem mata por prazer conforme o seu "saber".
Torno a dizer: na lei da selva sobrevive o mais forte...E na lei cívil?...é diferente?
Estamos, como humanos, dando um outro significado ao HUMANO.

Degladiando-se entre a fé e a ciência (criacionismo ou evolucionismo?) o homem não sabe de onde veio  nem para onde vai...mal sabe como está. Os que poucos têm consciencia de suas ações buscam psicoterapia ou análise para o seu ser... para o seu não-saber... para o seu desejo... para a sua falta.
 Mas os que vegetam entre os vegetais -->> têm reforçado conceitos e preconceitos fossilizados... como é igualmente jurássico os valores expedidos mundialmente em torno do comportamento humano.

Nesse raciocínio comportamental, os mais renomados "formadores de opiniões" em seus programas de entrevistas, tem pesquisado nas falas  de seus convidados o:
  • como proceder, 
  • como agir, 
  • como pensar  e 
  • ver a vida. Como SE o olhar do outro pudesse ser o seu também. E nessa ilusão (ilusão de ótica) muitos caminham cegos pelo caminho alheio embusca do próprio caminho.

Pensando nisso, me lembrei que certa vez, na entrega do trofél "Globo de Qualidade" (MELHORES DO ANO), o apresentador Faustão perguntou, ao brindar Glória Pires por seu desempenho em sua última novela:
 "Qual o segredo de saber a administrar a vida pessoal e profissional?".

Eu, Anderson, gostei muito da resposta que Glória Pires deu ao apresentador. Entre outras  coisas que ela falou, destaco o seguinte trecho:
"A gente não SABE como faz...a gente vai buscando. No meu caso eu fui buscando uma forma de poder ter a minha vida; poder viver normalmente, ter minhas PARTICULARIDADES [...] Antes de ser atriz eu sou um ser humano. Eu tenho a minha vida, meus filhos, meu marido... OS DESEJOS comuns, os medos comuns a todo ser humano... então NÃO SEI como fazer"... (GLÓRIA PIRES)

Diante da sábia resposta da atriz, Faustão (que não tem papo à altura) só soube dizer: "é verdade". rsrs... e ele ia dizer mais o quê? rsrs
Para quem quiser conferir na íntegra a esta entrevista de premiação, deixo aí o vídeo. Quem quiser se ater somente nas falas citadas: veja onde vídeo marca  1 minuto e 5 segundos. Quem não quiser ficar escutando até o fim as baboseiras do apresentador basta apenas assistir ao vídeo do minuto anterior até 2 minutos e 30 segundos.
Observei, neste evento, que a mesma pergunta foi dirigida aos outros ganhadores do trofél, em suas respectivas categorias. Depois procurem, se desejarem, os outros vídeos da premiação na internet... perceberão que a mesma pergunta é dirigida a todos os outros entrevistados da noite. Também a tenho constatado nos demais programas de entrevistas e noticiários que assisto sempre que se faz presente um artista de minha predileção. Ou seja, o mesmo tipo de pergunta generalista vem à tona: Qual o segredo do seu profissionalismo?
Qual o segredo disso?
Qual o segredo daquilo?
Como se houvesse O SEGREDO...
  • A RECEITA
  • A FÓRMULA
  • O CHÁ
  • A ERVA
Embusca do caminho das pedras, muitos vem focando apenas em um único caminho... daí tantas guerras, brigas e discussões intermináveis em torno de pontos aparentemente universais... É o ser humano impondo aquilo que ele considera como absolutamente certo e  "ÚNICO" sobre o outro:
  • O ÚNICO CAMINHO
  • A ÚNICA  RELIGIÃO
  • A ÚNICA  SEXUALIDADE
  • A ÚNICA RAÇA (pura)
Tudo aquilo que diferir do "ÚNICO" pode vir a ser alvo de chacota, zombaria e/ou bulliyng. Em tempos medievais, a guilhotina, a masmorra, a fogueira ―seria o destino certo. Mas em tempos pós-modernos como os nossos: as diferenças "vai na porrada mesmo".
ÀS diferenças, resta o resto da indiferença.
Mas MAIS do que a INdiferença alheia ―é você (meu caro leitor )ser indiferente a SI mesmo...
MAIOR que o peso das cobranças alheias ―são as tuas cobranças pessoais...
PIOR que o descaso dos outros ―É o descaso que você venha a fazer com suas PARTICULARIDADES, com suas nuances e principalmente com os seus sentimentos.
Cuide-se!

"O que nos caracteriza como cada um, é ser o que os outros não são" (LACAN, 2003)

REFERÊNCIAS:
______________________
LACAN, J.(1955/56) O seminário , livro 3. As psicoses. Rio de Janeiro: Zahar, 1985
LACAN, J. (1961/62) O seminário, livro 9. A Identificação. Recife: Centro de Estudos Freudianos do Recife, 2003.
QUINET, A. A descoberta do Inconsciente: do desejo ao sintoma. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2000

"distinguir", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2010, http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx?pal=distinguir [consultado em 10-06-2012].