sábado, 28 de julho de 2012

A verdade que ninguém quer saber

Preza-se muito pela verdade... especialmente aquela que ficou-se sabendo por outra pessoa.
  •  Dizem que a verdade dói na "cara".
  • Na política criou-se inclusive a comissão da verdade;
  • Nos julgamentos se jura falar a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade.
  •         E tua verdade? Qual é?

       Confrontados com ela, muitos fogem, outros não querem saber.
À exemplo disso em casos de suspeita de doença, é muito frequente encontrar na cultura masculina aqueles que preferem não ir ao médico para não se defrontar com a  verdade sobre sua saúde. Mas, não iremos aprofundar sobre a saúde orgânica, uma vez que, este blog se propõe a enfatizar a saúde psíquica.
Dizem que a voz do povo é a voz de Deus. Nesta perspectiva, muitos pre-conceitos se perpetuam como verdade. Especialmente  aqueles que dificultam as mulheres de se divorciarem. Culturalmente, mulher divorciada ainda é mulher puta, ameaça para outras mulheres, e temor para as próprias amigas, inclusive.
 "... as barreiras sociais nos cegam."[Goleman, 1946]
       Culturalmente, ao homem cabe arrotar grandeza, virilidade... não importa o que diga, o que faça (especialmente frente a outros do grupo).
Homem tem que ostentar a sua POTÊNCIA... Seja esta potência financeira ou sexual. Finanças e sexualidade [pode não parecer mas] estão intimamente relacionadas. Desenvolverei isso em outra postagem... No momento cabe apenas relacionar que encontrar-se em muitos cenários conjugais tudo aquilo que vem a ser artifício para lidar com a  insatisfação [comum] de parceiros sexuais; e, tudo aquilo que os acalenta.   Importa destacar  que a  INSATISFAÇÃO nunca se satisfafaz e é por isso que se chama ―insatisfação. E, claro, que essa definição de insatisfação não satisfaz. Mas, por ora, os deixarei insatisfeitos com a mesma. Cabe também enfatizar a insatisfação que impulsiona os ítens a seguir:
  1. Qual é o homem que quer ter dúvida de sua potencialidade? [no mais amplo sentido da palavra]
  2. Quem gostaria de ouvir NÃO como resposta, após a famosa cena sexual: "foi bom pra você?"
  3. Quem gostaria de saber que a pessoa a quem  mais se desejou na vida nunca sentira nada mais do que nada?
  4. E se lhe fosse dito que seu relacionamento é de conveniência e, só você  não consegue  ver?   
  • E se tudo isso fosse VERDADE???... Como você lidaria com isso?
Os  exemplos citados acima, são  presentes pelo mundo à fora. Às vezes, mais de um  dos itens destacados  podem serem encontrados em uma mesma pessoa. Seriam verdades de pessoas que  talvez se sintam incapazes, receosas, inseguras, impotentes, e portanto INSATISFEITAS. Mas insatisfação não é o foco de hoje, apesar de que, qualquer um dos pontos questionados  poderiam estar presente na vida de qualquer um de nós. Esses, ou outros semelhantes. E nós, poderíamos escolher trabalhá-los de frente, ou mantê-los  à distância como fazem aqueles que muito sabe sobre os outros, e pouquíssimo sobre  si mesmo. Ou seja, aqueles que  não gostam de OUVIR-SE...de perceber-se como faltoso... Faltoso no sentido de FALTA, LACUNA, BURACO, FENDA, VAZIO, NADA.
Nesse viés, como  faltoso, o sujeito  jamais poderá completar o objeto amado. Uma dialética de BURACOS existenciais ―crise de relacionamentos e a deterioração de  outros laços... Bem aí cabe a célebre frase de Jacques Lacan quando diz que "amar é dar o que não se tem... a quem não o É!" Perfeita essa frase!... Claro que ela é bem mais ampla que o  contexto que estou colocando aqui. Mas  no momento, apenas cabe  mostrar  a dificuldade que o sujeito tem de lidar com suas próprias limitações. Nessa perspectiva, o vazio se instala como missão  que se oferece  ao outro nas constantes tentativas de preenche-lo com sucessivas provas de amor. Mesmo que seja uma prova  importada ou ditada pela mídia. Prova sempre frustrada, pois nunca haverá NADA que se possa fazer para preencher-se ou preencher o outro. Daí, a dificuldade do ser humano encarar o seu próprio NADA... de encarar a sua própria verdade.
Diante disso, surge como paliativo as verdades virtuais... aquelas verdades onde tudo é lindo, feliz e maravilhoso.
                   Para sobreviver neste mundo de "meias verdades", cria-se artifícios para que a vida não seja tão dura como dura é a verdade que  jaz dentro do ser humano e que FENDE  o seu ego. Este é  o motivo pelo qual muitos não vão ao "médico de ouvidos";  e de outros tantos não procurarem um psicólogo (ou psicanalista). Querem continuar "surdos"...
No dito popular: "O pior cego é aquele que não quer ver"...  neste contexto: O pior surdo, qual é?
É aquele que não presta atenção ao seu próprio discurso, aos lapsos de linguagem, ao que diz o seu sonho onírico, metáforas, metonímias, sintomas e todos os outros rastros que apontam para a VERDADE  do sujeito. Já é importante salientar, que a VERDADE tratada aqui, é a verdade INconsciente do sujeito.

           Um dos artifícios  mais fáceis de se observar naqueles que faltam com a própria VERDADE   é  a dedicação que eles  têm com  a vida alheia.  Seus  ouvidos são  bastante apurados   na casa das "paredes têm ouvidos". Isto é, a parede da casa dos outros.  Mesmo que sejam paredes virtuais, cibernéticas ou imaginárias.
É  muito comum encontrar pessoas dedicando-se a vida dos outros para esquecer da própria. À exemplo disso temos também  ―as ditas redes sociais.
Esta dedicação à vida de terceiros, praticada na vida real e virtual,  passa contínuamente  por um filtro negativo de visão. Onde o observa-dor  só vê o que quer. Ou seja, passa-se a ver a vida do outro (quase sempre) de maneira negativa. Colocando defeitos onde não existem. Isto porque, "defeito", cabe enfatizar, é um conceito subjetivo, chegando a ser um preconceito, no mais amplo sentido da palavra ―pre-conceito.
 "Mas, assim que um viés científico se instala, nossas lentes se embassam. Costumamos  nos agarrar a qualquer coisa que confirme o viés e ignorar o contrário [...] E, assim, quando encontramos alguém a quem o preconceito possa ser aplicado, o viés distorce nossa percepção[...]" (GOLEMAN, 1946)
 Optar pelo artifício é a via mais cômoda para os que querem ter a sensação de  se sentir melhores... melhores que os outros.
É o que condiciona àqueles que vivem a exibir os objetos e as marcas que ostentam... É uma maneira de dizerem a si mesmos:
"eu comprei a SENSAÇÃO que eu não tenho."
         A frase acima será tema da próxima postagem, onde continuarei desenvolvendo o tema da cultura masculina e suas des-ilusões.

        A NEGAÇÃO, tem sido amplamente explanada  em minhas postagens. Na postagem de hoje,  mostro-a como artifício.
           Paradoxal, é o artifício que, citado  anteriormente como recurso consciente  (vindo ter as múltiplas finalidade de mascarar, compensar, iludir, aliviar etc...) mostra-se também como recurso  que nosso INconsciente lança mão para defender-se  e/ou  proteger-se daquilo que vem a considerar  forte, pesado, ou duro demais para o sujeito enxergar, encarar, absorver, engolir, digerir, assimilar  e/ou compreender. Parece irônico, mas tudo isso diz respeito a VERDADE do sujeito. Verdade que por vezes, vem a causar indigestão... literalmente.
Verdade esta que vem a negar. Mas em Psicanálise Aplicada, Freud no volume VII de suas obras, nos lembra que a "negação é uma forma de levar em consideração o que está reprimido".

        A verdade do sujeito não está escrita em sua testa, nem escancarada em sua fala, por mais que a pessoa seja verdadeira e honesta no que diz. "A verdade do INconsciente, deve desde então, ser situada nas entrelinhas". (LACAN, 1998)
        Tão defendida por  todos,  a verdade é, paroxalmente, rejeitada pela maioria. Ou seja, a verdade que se rejeita não é a verdade dos outros, mas, própria VERDADE. Em outras palavras: a verdade do eu.
        Até onde você se conhece? E até onde está disposto a conhecer-se?

        Trabalhar-se para escutar a própria VERDADE é um caminho... Um caminho árduo... trabalhoso... Longo. Onde pode-se optar por atalhos, artifícios e dribles para tentar (como bom jogador que seja) jogar com a própria vida...é uma opção sua...uma escolha que pertence a cada um para tornar-se melhor como pessoa, como cidadão, como ser.
Eu acredito, particularmente, que a vida não é um jogo. A vida é pra ser vivida. E quem não sabe vivê-la, acaba jogando-a fora vitimizando-se por ironia da vida.
     A vida pode ser melhor... tornando-se melhor como pessoa. E tornar-se melhor, como pessoa, é bem diferente de tentar ser melhor que os outros. Pois quem quer se sentir melhor que os outros  no fundo, no fundo, sempre  se achou pior  que  todos  eles juntos. 
"E quem se acha melhor que os outros ―resiste a suas próprias melhoras."[Anderson Gomes]
Texto de:



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