quarta-feira, 18 de julho de 2012

Brasil: país VIRIL!


             Dizem que o Brasil, é um país liberal... que é o país das bundas livres, lisas e loiras.
Nisso, o percurso ocorre desde que se liberou  a Lei áurea, abolindo a escravatura. Gerações após tanto preconceito, liberou-se o voto para mulheres e o uso de  calças e minissaias para   as mesmas ―até mesmo nas igrejas mais puritanas.
           Talvez seja por isso que se diz que vivemos na nação mais liberal do mundo... o país do futebol, onde times e torcidas rivais se munem de "viados" e "bichas" quando querem se atacar entre si com tais expressões. Os termos mais sexualizados são  os escolhidos para estarem inseridos no discurso hostil de cada jogador em potencial espalhado pelo vasto território brasileiro. E por quê? Por quê o time X é bambi, e o outro é time é de viado ou baitola?
Por que os times não podem rivalizarem simplesmente por seus títulos, troféus, gols ou dribles futebolísticos  em vez de especularem quem é o time mais macho? Existe o time mais macho ou menos macho?
          A disputa volta-se mais uma vez em torno do phallus. Poder. Um discurso INconsciente  pelo qual   se implica a sexualidade humana, tão amplamente teorizado nas psicanalises modernas.
       No discurso do futebol não é diferente. Não basta apenas ser bom jogador, tem que ser macho. Até quando? Até se provar que é possível continuar sendo um bom jogador apesar de sua sexualidade. A-pesar?
Sim... a sexualidade tem um peso enorme na cultura de um povo, especialmente no campo, no gramado, no mato. Os mesmos jogadores que se tocam, se abraçam de frente e por traz  dentro de campo: fazem comentários torpes  a respeito de tais  cumprimentos calorosos ―fora de campo.
O que se pode lá no campo, diante dos olhos ferozes das multidões, que não se pode fora de campo? O que muda? O contexto?
Em que contexto nós vivemos?
E que texto estamos escrevendo para nós mesmos lermos?

              A exemplo disso, temos o caso de um  fenômeno do futebol brasileiro, fato bem conhecido, muito noticiado na época em que  saiu com 2 travestis,  e depois, entrevistado pelo Fantástico, disse que se confundiu. Fantástico mesmo foi ele ter que  se justificar desta forma perante as marcas de propagandas publicitárias  que representa, além daquela que sustenta a sua virilidade. Ou seja, a marca do Brasil: país viril!... e altamente liberal.  Brasil, um país de todos!... De todas as culturas, de todas as nacionalidades, de todos os credos e crenças, mitos e lendas; de todos os que tem uma raíz diferente, ou seja: hetero, no mais amplo sentido da palavra. A saber:  Hetero vem da palavra grega heteros, que significa "diferente". Nesse sentido, podemos dizer que o Brasil em que vivemos, é uma nação hetero de língua, hetero de cor, hetero de sexo. E mais que isso, o Brasil é um país liberal. O país das bundas livres, lisas e loiras desde que: não seja jogador de futebol, fenômeno, goleiro, galã de televisão, cantor sertanejo universitário, atleta, ou com alguma outra profissão de destaque na sociedade. Brasil é realmente um país de todos... de todos os heterossexuais e  de todos os "heterossexualizados". Ou seja, de todos aqueles que tem que se adequar a um padrão global heteronormativo... de todos aqueles que tem sua sexualidade vigiada pelo governo, pela igreja, pela família.

            Quantas décadas não se lutou pelo casamento civil homoafetivo? E quanto ainda não se luta para que o projeto de lei [122] que criminaliza a homofobia seja aprovado?
Marta Suplicy no senado
– Essa questão da violência contra os homossexuais mostra cada vez mais a necessidade de se votar nesta casa o projeto de combate à homofobia – afirmou a senadora, que fez seu pronunciamento motivado pelo assassinato de Lucas Ribeiro Pimentel, de 15 anos, visto que segundo a polícia civil, que investiga o homicídio, há indicativos de motivação homofóbica no caso.
          Quantas notícias não saíram em torno do jeitinho meigo e dos cabelos até então compridos do jogador Richarlyson? Quantas outras  não se especula  em torno do Cristiano Ronaldo, Vampeta etc?
           Atualmente, o foco gira em torno da relação de amizade do goleiro Bruno e Macarrão. Recentemente, o advogado de Bruno declarou a imprensa que :
“A carta poderia ser o término de um relacionamento  sexual, eu pensava isso. Mas ficou claro que a carta era dentro do âmbito da amizade depois de conversar com o Bruno”, disse o advogado.




         Vivemos num mundo onde, se confirmada a homossexualidade de artistas, atletas e outros profissionais ―seus talentos e conquistas parece que desapareceriam. Desapareceriam???
       Seguida esta lógica, onde estariam hoje Elton John, Ricky Martin, Ney Matogrosso, Marco Nanini, entre outros?
Deixaram de ser reconhecidos aqueles que já se foram como Renato Russo, Fred Mercury,Cazuza etc?
"QUE PAÍS É ESSE?" Cazuza, morreu sem o saber. Mas quem é que sabe?
Quem é que sabe sobre o país que estamos construíndo?
          Talvez a resposta nem sempre seja aquela que se quer ver e ouvir. Mas... cada um sabe o que quer evitar. Cada um sabe o que quer ver. Cada um sabe o que quer ouvir, sentir, perceber. Veda-se tudo que for perturbador demais para o sujeito entrar em contato... contato consigo mesmo. E quem veda? O próprio psiquismo do sujeito que, segundo a psicanálise, se utiliza de mecanismos para defender  seu ego de toda informação ou percepção que possa tirá-lo de seu equilíbrio interno. A estes mecanismos Freud chamou de macanismos de defesa.
           Nesta perspectiva, o que o povo brasileiro não quer ver?
  • Do que é que o mundo se defende tanto?
  • Do que se sentem ameaçados? e por QUEM?
  • pela sexualidade do outro ou pela própria natureza?
"Gigante pela própria natureza,
és belo, és forte impavido colosso!
se em teu futuro espelha essa Grandeza
Terra dourada
Entre outras mil...
―és tu Brasil!"

texto de: