sábado, 22 de abril de 2017

Estou SOLTEIRA... e agora?

Hoje à tarde, no show de calouros do Programa Raul Gil, a cada candidata  SOLTEIRA que entrava no palco,  ouvia-se o diálogo socialmente REPRODUZIDO (e cobrado) nas  mídias, festas, bares e seio familiar (onde tudo se inicia):
❇ RAUL GIL: Que jovem bonita. Qual seu nome?
✴ CANDIDATA: fulana de tal.
❇ RAUL GIL: Está namorando?
✴ CANDIDATA: não.
❇ RAUL GIL: Não??! (espanto).👀
✴CANDIDATA: Não.
(Raul Gil, aparentemente surpreso, se dirige ao seu público e diz) :
❇: Olhaaaaaaa !👀

Parece que esse é o discurso social e obrigatório do status: "NAMORANDO", que paira como uma nuvenzinha carregada sobre aqueles que se acham alvos da SATISFAÇÃO alheia. Sim, "satisfação" do Outro, ao Outro e para o Outro. É em nome dessa "satisfação" social que, paradoxalmente, temem  o dito popular: "antes só do que mal acompanhado". É em nome dessa "satisfação" que temem a expressão socialmente compartilhada:  "ficar pra titia".
É em nome da satisfação do Outro que muitos se esquecem ou continuam se esquecendo de SI MESMOS... Como se fosse um casamento ou um relacionamento COMUNITÁRIO em que não se pode estar SOLTEIRO para o " bem geral da nação".
Vivemos ainda em uma época em que todos os dias se faz  a REPRODUÇÃO do discurso do dia 07 de setembro de 1822:
"Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, digam ao povo que fico". Diga ao POVO que estou NAMORANDO. Diga ao POVO que não sou mais virgem.
Diga ao POVO que estou grávida, mas eu vou casar.
Diga ao POVO que não sou vadia(o).
Diga ao POVO que não sou bicha (o).
Diga ao POVO que sou casada (o).
Diga ao POVO que não sou sozinha (o).
Diga ao POVO que olhe como sou feliz no Facebook.
Diga ao POVO que CURTAM minhas fotos.
Diga ao POVO qualquer coisa, mas diga.
É em nome da "satisfação" geral da nação que se pode satisfazer a muitos, menos a SI MESMO. Porque satisfação social é uma coisa e satisfação pessoal é outra coisa totalmente diferente. Saber onde começa um e termina o outro pode ser considerado,  simbolicamente, como o dia da INDEPENDÊNCIA (do sujeito). O que  satisfaz a um pode não satisfazer ao outro e vice versa. Porque cada ser é único. E a satisfação pessoal é SINGULAR. Cada um sabe (ou poderia saber) onde seu sapato "aperta", mesmo que goze com esse "aperto". Cada um tem seus pontos sensíveis e particulares de gozo. Há vários modos de gozo; inclusive: goza-se solteira e/ou solitariamente. O que não quer dizer que seja um gozo infeliz. Pois, não existe gozo feliz ou infeliz. Existe GOZOS.  Existe gostos. E "gosto não se discute". Eis aí mais um jargão social, e este, ao que parece: quase ninguém faz questão de RESPEITAR.

---------------------------
Texto:  Anderson Gomes