quinta-feira, 2 de agosto de 2012

ANIVERSARIANDO (parte 1)

Hoje um amigo meu completou mais um ano de vida.
E me fez pensar nas possibilidades que se tem de observar o dia do nosso nascimento. Me inspirou inclusive 3 postagens  sobre o assunto. Postarei uma agora e outra depois.

         Muitos o observam como mais um dia de trabalho, mesmos em dias de feriado. Outros simplesmente preferem não  observar o dia em que nasceram. Preferem passar às cegas ou esquecê-lo, provavelmente, da mesma maneira que esquecem de si mesmos... como se fizessem outra coisa na vida, além de:
  • Esquecer-se.
  • Priorizar outras pessoas.
  • Valorizar outras pessoas.
  • Se envolver com outros afazeres de maior interesse.
Mas aí eu pergunto: Que interesse existe no mundo maior que as nossas próprias prioridades?
Consultando o discionário (Priberam) encontrei esta definição:
  (do latim prior, -oris, que está mais frente)
Preferência conferida a alguém, relativamente ao tempo de realização do seu direito, com preterição do de outros.
Gostaria de dizer para os caros leitores que você tem TODO o direito de se priorizar, sem se sentir culpado, ou sem se sentir egoísta. Pois todo ego-ismo, no mais amplo sentido da palavra, diz respeito ao EGO. Parece simples enfatizar isso, mas se perguntar como anda o EGO de muitas pessoas que  não se prioriza, ao menos uma vez no ano, constataremos uma enorme fragilidade... ou talvez  esse EGO nem exista. E por quê? porque o EGO dela está sendo o EGO de outras pessoas. O que é facilmente confudido com ALTRUÍSMO. Que de acordo com o mesmo discionário consultado é:

"Inclinação para procurarmos obter o bem para o próximo.
Inclinação essa que tem como objeto, sempre o Outro. A libido do sujeito se dirije ao outro. Investindo no outro. Uma catexia, diria a psicanálise, no sentido de investimento. Mas, ao mesmo tempo em que se investe no outro, se des-investe de si. Talvez um sentido mais psicanalítico da palavra altruísmo seria ―O Nosso EGO se esvazia para investir no outro.
        Nós poderíamos ir longe nesse ALTRUÍSMO x EGOÍSMO, mas fica para uma outra postagem, caso os leitores achem importante fazer um texto só para esse tema. Havendo interesse, é só deixar um recado na caixa  de comentários, abaixo deste escrito.  No momento, me proponho apenas a falar do cuidado que precisamos ter com nós mesmos. De reservar um tempo MAIOR para nosso cuidado pessoal. Perceber o quê de nós, está precisando de um carinho maior  da nossa própria parte. Precisamos rever nossa conduta, e readotar uma outra postura frente àquela que vem sendo tomada com a primeira pessoa do singular.
         O que está acontecendo para se conjugar apenas na 2ª pessoa?
Já não se sabe mais o que se quer nesse mundo. O que pode se pensar como causa desse fenômeno ―o fator TU:
  • o que TU achas disso?
  • o que TU queres pra mim?
  • o que TU desejas?
Em vez de se pensar:
  • O que EU acho disso?
  • O que EU quero pra mim?
  • O que EU desejo?
O medo de pensar em SI, parece que domina, ou se acostuma, levando a um comodismo mental ―de se acreditar  que o desejo do Outro, é o nosso desejo. Sabe como isso se chama: ALIENAÇÃO. Algumas instituições dão o nome de cristianismo. O cristianismo que eu conheço é outra coisa; mas enfim, não vou entrar nesse viés religioso, pois este, não é o foco deste blog.
           Mas, voltando ao ponto da alienação ―ela não vem de agora. Poucas são as pessoas, que desde pequenas, foram ensinadas a se responsabilizar pelos seus atos, suas consequências, suas escolhas. Poucas foram as pessoas que tiveram a oportunidades de tomar iniciativas. Poucas foram as pessoas a quem foram dadas o direito de quebrarem a cara. Na maior idade, o que se tornam? crianças crescidas, ou ALIENADAS. Vão tentar aprender agora, na idade adulta, tudo aquilo que deveriam ter aprendido na mais tenra idade. O que observamos em nossos dias? Altíssimos índices de atos impensados, imaturos e infantis. Mas, nunca é tarde. NUNCA é tarde para PARAR um pouco pra pensar em si... sem medo de parecer egoista. E se isso for difícil para você conseguir sozinho  procure  um psicólogo ou psicanálista.
E quando  seu aniversário chegar, não esqueça de que o dia é SEU. E pode haver várias maneiras de observá-lo, assim como há várias maneiras de passa-lo às cegas... de alienar-se de SI, para observar os outros. É uma escolha... e mais uma oportunidade que a vida lhe dá para responsabilizar-se pelos resultados de suas escolhas; mesmo sendo ela ―a opção de não fazer NADA...
(nada por si mesmo).

sábado, 28 de julho de 2012

A verdade que ninguém quer saber

Preza-se muito pela verdade... especialmente aquela que ficou-se sabendo por outra pessoa.
  •  Dizem que a verdade dói na "cara".
  • Na política criou-se inclusive a comissão da verdade;
  • Nos julgamentos se jura falar a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade.
  •         E tua verdade? Qual é?

       Confrontados com ela, muitos fogem, outros não querem saber.
À exemplo disso em casos de suspeita de doença, é muito frequente encontrar na cultura masculina aqueles que preferem não ir ao médico para não se defrontar com a  verdade sobre sua saúde. Mas, não iremos aprofundar sobre a saúde orgânica, uma vez que, este blog se propõe a enfatizar a saúde psíquica.
Dizem que a voz do povo é a voz de Deus. Nesta perspectiva, muitos pre-conceitos se perpetuam como verdade. Especialmente  aqueles que dificultam as mulheres de se divorciarem. Culturalmente, mulher divorciada ainda é mulher puta, ameaça para outras mulheres, e temor para as próprias amigas, inclusive.
 "... as barreiras sociais nos cegam."[Goleman, 1946]
       Culturalmente, ao homem cabe arrotar grandeza, virilidade... não importa o que diga, o que faça (especialmente frente a outros do grupo).
Homem tem que ostentar a sua POTÊNCIA... Seja esta potência financeira ou sexual. Finanças e sexualidade [pode não parecer mas] estão intimamente relacionadas. Desenvolverei isso em outra postagem... No momento cabe apenas relacionar que encontrar-se em muitos cenários conjugais tudo aquilo que vem a ser artifício para lidar com a  insatisfação [comum] de parceiros sexuais; e, tudo aquilo que os acalenta.   Importa destacar  que a  INSATISFAÇÃO nunca se satisfafaz e é por isso que se chama ―insatisfação. E, claro, que essa definição de insatisfação não satisfaz. Mas, por ora, os deixarei insatisfeitos com a mesma. Cabe também enfatizar a insatisfação que impulsiona os ítens a seguir:
  1. Qual é o homem que quer ter dúvida de sua potencialidade? [no mais amplo sentido da palavra]
  2. Quem gostaria de ouvir NÃO como resposta, após a famosa cena sexual: "foi bom pra você?"
  3. Quem gostaria de saber que a pessoa a quem  mais se desejou na vida nunca sentira nada mais do que nada?
  4. E se lhe fosse dito que seu relacionamento é de conveniência e, só você  não consegue  ver?   
  • E se tudo isso fosse VERDADE???... Como você lidaria com isso?
Os  exemplos citados acima, são  presentes pelo mundo à fora. Às vezes, mais de um  dos itens destacados  podem serem encontrados em uma mesma pessoa. Seriam verdades de pessoas que  talvez se sintam incapazes, receosas, inseguras, impotentes, e portanto INSATISFEITAS. Mas insatisfação não é o foco de hoje, apesar de que, qualquer um dos pontos questionados  poderiam estar presente na vida de qualquer um de nós. Esses, ou outros semelhantes. E nós, poderíamos escolher trabalhá-los de frente, ou mantê-los  à distância como fazem aqueles que muito sabe sobre os outros, e pouquíssimo sobre  si mesmo. Ou seja, aqueles que  não gostam de OUVIR-SE...de perceber-se como faltoso... Faltoso no sentido de FALTA, LACUNA, BURACO, FENDA, VAZIO, NADA.
Nesse viés, como  faltoso, o sujeito  jamais poderá completar o objeto amado. Uma dialética de BURACOS existenciais ―crise de relacionamentos e a deterioração de  outros laços... Bem aí cabe a célebre frase de Jacques Lacan quando diz que "amar é dar o que não se tem... a quem não o É!" Perfeita essa frase!... Claro que ela é bem mais ampla que o  contexto que estou colocando aqui. Mas  no momento, apenas cabe  mostrar  a dificuldade que o sujeito tem de lidar com suas próprias limitações. Nessa perspectiva, o vazio se instala como missão  que se oferece  ao outro nas constantes tentativas de preenche-lo com sucessivas provas de amor. Mesmo que seja uma prova  importada ou ditada pela mídia. Prova sempre frustrada, pois nunca haverá NADA que se possa fazer para preencher-se ou preencher o outro. Daí, a dificuldade do ser humano encarar o seu próprio NADA... de encarar a sua própria verdade.
Diante disso, surge como paliativo as verdades virtuais... aquelas verdades onde tudo é lindo, feliz e maravilhoso.
                   Para sobreviver neste mundo de "meias verdades", cria-se artifícios para que a vida não seja tão dura como dura é a verdade que  jaz dentro do ser humano e que FENDE  o seu ego. Este é  o motivo pelo qual muitos não vão ao "médico de ouvidos";  e de outros tantos não procurarem um psicólogo (ou psicanalista). Querem continuar "surdos"...
No dito popular: "O pior cego é aquele que não quer ver"...  neste contexto: O pior surdo, qual é?
É aquele que não presta atenção ao seu próprio discurso, aos lapsos de linguagem, ao que diz o seu sonho onírico, metáforas, metonímias, sintomas e todos os outros rastros que apontam para a VERDADE  do sujeito. Já é importante salientar, que a VERDADE tratada aqui, é a verdade INconsciente do sujeito.

           Um dos artifícios  mais fáceis de se observar naqueles que faltam com a própria VERDADE   é  a dedicação que eles  têm com  a vida alheia.  Seus  ouvidos são  bastante apurados   na casa das "paredes têm ouvidos". Isto é, a parede da casa dos outros.  Mesmo que sejam paredes virtuais, cibernéticas ou imaginárias.
É  muito comum encontrar pessoas dedicando-se a vida dos outros para esquecer da própria. À exemplo disso temos também  ―as ditas redes sociais.
Esta dedicação à vida de terceiros, praticada na vida real e virtual,  passa contínuamente  por um filtro negativo de visão. Onde o observa-dor  só vê o que quer. Ou seja, passa-se a ver a vida do outro (quase sempre) de maneira negativa. Colocando defeitos onde não existem. Isto porque, "defeito", cabe enfatizar, é um conceito subjetivo, chegando a ser um preconceito, no mais amplo sentido da palavra ―pre-conceito.
 "Mas, assim que um viés científico se instala, nossas lentes se embassam. Costumamos  nos agarrar a qualquer coisa que confirme o viés e ignorar o contrário [...] E, assim, quando encontramos alguém a quem o preconceito possa ser aplicado, o viés distorce nossa percepção[...]" (GOLEMAN, 1946)
 Optar pelo artifício é a via mais cômoda para os que querem ter a sensação de  se sentir melhores... melhores que os outros.
É o que condiciona àqueles que vivem a exibir os objetos e as marcas que ostentam... É uma maneira de dizerem a si mesmos:
"eu comprei a SENSAÇÃO que eu não tenho."
         A frase acima será tema da próxima postagem, onde continuarei desenvolvendo o tema da cultura masculina e suas des-ilusões.

        A NEGAÇÃO, tem sido amplamente explanada  em minhas postagens. Na postagem de hoje,  mostro-a como artifício.
           Paradoxal, é o artifício que, citado  anteriormente como recurso consciente  (vindo ter as múltiplas finalidade de mascarar, compensar, iludir, aliviar etc...) mostra-se também como recurso  que nosso INconsciente lança mão para defender-se  e/ou  proteger-se daquilo que vem a considerar  forte, pesado, ou duro demais para o sujeito enxergar, encarar, absorver, engolir, digerir, assimilar  e/ou compreender. Parece irônico, mas tudo isso diz respeito a VERDADE do sujeito. Verdade que por vezes, vem a causar indigestão... literalmente.
Verdade esta que vem a negar. Mas em Psicanálise Aplicada, Freud no volume VII de suas obras, nos lembra que a "negação é uma forma de levar em consideração o que está reprimido".

        A verdade do sujeito não está escrita em sua testa, nem escancarada em sua fala, por mais que a pessoa seja verdadeira e honesta no que diz. "A verdade do INconsciente, deve desde então, ser situada nas entrelinhas". (LACAN, 1998)
        Tão defendida por  todos,  a verdade é, paroxalmente, rejeitada pela maioria. Ou seja, a verdade que se rejeita não é a verdade dos outros, mas, própria VERDADE. Em outras palavras: a verdade do eu.
        Até onde você se conhece? E até onde está disposto a conhecer-se?

        Trabalhar-se para escutar a própria VERDADE é um caminho... Um caminho árduo... trabalhoso... Longo. Onde pode-se optar por atalhos, artifícios e dribles para tentar (como bom jogador que seja) jogar com a própria vida...é uma opção sua...uma escolha que pertence a cada um para tornar-se melhor como pessoa, como cidadão, como ser.
Eu acredito, particularmente, que a vida não é um jogo. A vida é pra ser vivida. E quem não sabe vivê-la, acaba jogando-a fora vitimizando-se por ironia da vida.
     A vida pode ser melhor... tornando-se melhor como pessoa. E tornar-se melhor, como pessoa, é bem diferente de tentar ser melhor que os outros. Pois quem quer se sentir melhor que os outros  no fundo, no fundo, sempre  se achou pior  que  todos  eles juntos. 
"E quem se acha melhor que os outros ―resiste a suas próprias melhoras."[Anderson Gomes]
Texto de:



quarta-feira, 18 de julho de 2012

Brasil: país VIRIL!


             Dizem que o Brasil, é um país liberal... que é o país das bundas livres, lisas e loiras.
Nisso, o percurso ocorre desde que se liberou  a Lei áurea, abolindo a escravatura. Gerações após tanto preconceito, liberou-se o voto para mulheres e o uso de  calças e minissaias para   as mesmas ―até mesmo nas igrejas mais puritanas.
           Talvez seja por isso que se diz que vivemos na nação mais liberal do mundo... o país do futebol, onde times e torcidas rivais se munem de "viados" e "bichas" quando querem se atacar entre si com tais expressões. Os termos mais sexualizados são  os escolhidos para estarem inseridos no discurso hostil de cada jogador em potencial espalhado pelo vasto território brasileiro. E por quê? Por quê o time X é bambi, e o outro é time é de viado ou baitola?
Por que os times não podem rivalizarem simplesmente por seus títulos, troféus, gols ou dribles futebolísticos  em vez de especularem quem é o time mais macho? Existe o time mais macho ou menos macho?
          A disputa volta-se mais uma vez em torno do phallus. Poder. Um discurso INconsciente  pelo qual   se implica a sexualidade humana, tão amplamente teorizado nas psicanalises modernas.
       No discurso do futebol não é diferente. Não basta apenas ser bom jogador, tem que ser macho. Até quando? Até se provar que é possível continuar sendo um bom jogador apesar de sua sexualidade. A-pesar?
Sim... a sexualidade tem um peso enorme na cultura de um povo, especialmente no campo, no gramado, no mato. Os mesmos jogadores que se tocam, se abraçam de frente e por traz  dentro de campo: fazem comentários torpes  a respeito de tais  cumprimentos calorosos ―fora de campo.
O que se pode lá no campo, diante dos olhos ferozes das multidões, que não se pode fora de campo? O que muda? O contexto?
Em que contexto nós vivemos?
E que texto estamos escrevendo para nós mesmos lermos?

              A exemplo disso, temos o caso de um  fenômeno do futebol brasileiro, fato bem conhecido, muito noticiado na época em que  saiu com 2 travestis,  e depois, entrevistado pelo Fantástico, disse que se confundiu. Fantástico mesmo foi ele ter que  se justificar desta forma perante as marcas de propagandas publicitárias  que representa, além daquela que sustenta a sua virilidade. Ou seja, a marca do Brasil: país viril!... e altamente liberal.  Brasil, um país de todos!... De todas as culturas, de todas as nacionalidades, de todos os credos e crenças, mitos e lendas; de todos os que tem uma raíz diferente, ou seja: hetero, no mais amplo sentido da palavra. A saber:  Hetero vem da palavra grega heteros, que significa "diferente". Nesse sentido, podemos dizer que o Brasil em que vivemos, é uma nação hetero de língua, hetero de cor, hetero de sexo. E mais que isso, o Brasil é um país liberal. O país das bundas livres, lisas e loiras desde que: não seja jogador de futebol, fenômeno, goleiro, galã de televisão, cantor sertanejo universitário, atleta, ou com alguma outra profissão de destaque na sociedade. Brasil é realmente um país de todos... de todos os heterossexuais e  de todos os "heterossexualizados". Ou seja, de todos aqueles que tem que se adequar a um padrão global heteronormativo... de todos aqueles que tem sua sexualidade vigiada pelo governo, pela igreja, pela família.

            Quantas décadas não se lutou pelo casamento civil homoafetivo? E quanto ainda não se luta para que o projeto de lei [122] que criminaliza a homofobia seja aprovado?
Marta Suplicy no senado
– Essa questão da violência contra os homossexuais mostra cada vez mais a necessidade de se votar nesta casa o projeto de combate à homofobia – afirmou a senadora, que fez seu pronunciamento motivado pelo assassinato de Lucas Ribeiro Pimentel, de 15 anos, visto que segundo a polícia civil, que investiga o homicídio, há indicativos de motivação homofóbica no caso.
          Quantas notícias não saíram em torno do jeitinho meigo e dos cabelos até então compridos do jogador Richarlyson? Quantas outras  não se especula  em torno do Cristiano Ronaldo, Vampeta etc?
           Atualmente, o foco gira em torno da relação de amizade do goleiro Bruno e Macarrão. Recentemente, o advogado de Bruno declarou a imprensa que :
“A carta poderia ser o término de um relacionamento  sexual, eu pensava isso. Mas ficou claro que a carta era dentro do âmbito da amizade depois de conversar com o Bruno”, disse o advogado.




         Vivemos num mundo onde, se confirmada a homossexualidade de artistas, atletas e outros profissionais ―seus talentos e conquistas parece que desapareceriam. Desapareceriam???
       Seguida esta lógica, onde estariam hoje Elton John, Ricky Martin, Ney Matogrosso, Marco Nanini, entre outros?
Deixaram de ser reconhecidos aqueles que já se foram como Renato Russo, Fred Mercury,Cazuza etc?
"QUE PAÍS É ESSE?" Cazuza, morreu sem o saber. Mas quem é que sabe?
Quem é que sabe sobre o país que estamos construíndo?
          Talvez a resposta nem sempre seja aquela que se quer ver e ouvir. Mas... cada um sabe o que quer evitar. Cada um sabe o que quer ver. Cada um sabe o que quer ouvir, sentir, perceber. Veda-se tudo que for perturbador demais para o sujeito entrar em contato... contato consigo mesmo. E quem veda? O próprio psiquismo do sujeito que, segundo a psicanálise, se utiliza de mecanismos para defender  seu ego de toda informação ou percepção que possa tirá-lo de seu equilíbrio interno. A estes mecanismos Freud chamou de macanismos de defesa.
           Nesta perspectiva, o que o povo brasileiro não quer ver?
  • Do que é que o mundo se defende tanto?
  • Do que se sentem ameaçados? e por QUEM?
  • pela sexualidade do outro ou pela própria natureza?
"Gigante pela própria natureza,
és belo, és forte impavido colosso!
se em teu futuro espelha essa Grandeza
Terra dourada
Entre outras mil...
―és tu Brasil!"

texto de:

sábado, 7 de julho de 2012

No picadeiro da vida

        Muitas pessoas tem se valido da internet para se tornarem aquilo que não são, ou nunca foram. Buscam nesse sentido, mais um sentido no existir.
Se vivem tristes ou vazias ―se fazem vítimas de suas próprias armadilhas. Suas postagens apenas realçam o lado obscuro da  sua dura realidade escondida ―por traz da tela do computador.
      Quanto material não se encontra na  internet dignas de uma EXPOSIÇÃO psiquiátrica? Quantos risos, e piadas não se conta e não se faz  em cima de vídeos e imagens na intenção de ser célebre ou popular?
Falando nisso, os programas de TV já tem até quagros específicos sobre as ditas celebridades estantâneas. Quase todo mundo hoje em dia quer ser popular, famoso e/ou reconhecido (embora ser famoso não seja a mesma coisa de ser reconhecido).
         Mas o RECONHECIMENTO  é tudo que se quer  na vida?
Reconhecimento em termos de quê? Muitos gostariam de serem reconhecidos nas ruas como fenômenos, populares, engraçados, e brilhantes. O decalque perfeito de  um personagem como o do palhaço que, só pode mostrar o que convém  à sua maquiagem sempre sorridente. Mas estar sorridente e estar  alegre é a mesma coisa?

        Um palhaço vive para o riso. Quer ser reconhecido por ele. É a força que o move! É o sentido da sua existência. E enquanto houver possibilidade de um  sorriso ―haverá o motivo de ser palhaço. O que não quer dizer que todo palhaço esteja  alegre por dentro. Mas precisa estar sempre alegre para ser palhaço. (Precisa?)
Existem muitos palhaços tristes mundo à fora.
Existem muitos palhaços tristes  na internet.
Existem muitos palhaços tristes postando suas palhaçadas nas redes sociais.
Palhaços que não estão tristes no momento, mas que são tristes. Há diferença. Mas o desenho do seu sorriso convém para a alegria de muitos ―menos a própria.

SER e ESTAR
         Dois verbos que fazem parte da vida daqueles que se travestem dia-dia de palhaço nos picadeiros da vida. A alegria é um estado de espírito...não dá pra fingir. Mas o sorriso pode ser desenhado, e pintado de um canto da orelha á outra. Ou seja, pode-se fingir está alegre. Mas  ser alegre diz respeito ao psiquismo do sujeito, que mesmo não podendo está alegre permanentemente, este estado de alegria predomina sobre as tristezas da vida. Afinal,  o  ser humano, é um ser que  sente: alegrias e tristezas, amores e dores, esperanças e desesperos. A diferença está em como cada um de nós,  lidamos com nossas emoções. O palhaço do circo, em seu picadeiro, é um ser, que embora aparente está alegre no exercício de sua profissão ―nem sempre está... Mas ele está sempre sorrindo, o que é muito diferente. Seu sorriso largo de uma ponta a outra, é pintado. Nunca se desmancha. Mas fora do palco ele se desfaz.

E você meu caro amigo? Você sorri ou desenha um sorriso?
Por traz da cortina da sua vida, no íntimo do seu coração, quando chega em casa  você volta a sentir TODOS os outros sentimentos que  deixa de lado quando se traveste.

          Ou... é como aqueles palhaços que em seu dia-dia fazem de tudo para também serem reconhecidos como o mais alegre, o mais "azuado", o mais "resenheiro", o mais amado, o mais compreensivo, o mais bonzinho, o mais prestativo e o mais aloprado.

         O corre-corre do MAIS, nunca pára... o tempo não pára, e para onde se vai com tanta pressa?
RESPOSTA: para o mesmo lugar onde chegam todos mais cedo ou mais tarde ―pra debaixo da terra.

         E nesse reconhecimento de SER para o Outro, sabe-se cada vez menos de SI mesmo. 
DES-conhece-se... 
...E teme-se cada vez  mais o desconhecido. E o detalhe é que cresce cada vez MAIS o número de desconhecidos  [com RG] no mundo. DES-conhecidos para SI mesmos. Paradoxalmente a isso, casais ainda reclamam  que "não sabia que o seu companheiro era assim ou assado".Quando eles mesmos mal se conhecem a SI próprios, individualmente. E por mais que se enveredem na busca do autoconhecimento numa PSICOTERAPIA ―nunca se chegará ao fim― enquanto vivos.
O SER humano é uma eterna caixinha de supresas... supreendem-se... e que bom que seja assim!...pois as eternas descobertas oferecem a vida inúmeras possibilidades de sentido.

  •        Qual o sentido que você está dando a sua vida?
  • A sua vida tem sido feita de "palhaçadas" para ser ―o mais engraçado?
  • Sua vida tem sido feita de "favores" para ser ―o mais prestativo?
  • Sua vida tem sido feita de mentiras para se sentir ―aceito?
  • Sua vida tem sido apagada para não destoar dos demais?
  • Sua vida tem sido insípida e inodora para você não se tornar incômodo?
  • Ou você tem anulado a sua vida em prol do reconhecimento do Outro?

Como você quer ser conhecido?
Que imagem você está vendendo?

        A vida precisa ser bem mais que o MAIS dos outros. Ela precisa significar MAIS para você mesmo. E este significado não está no reconhecimento alheio, mas no próprio AUTOconhecimento. Mesmo quando este conhecimento implique em suas próprias perdas e dores. Mesmo que este autoconhecimento tenha a ver com TODOS os outros sentimentos que você deixa de lado quando interpreta o seu personagem  social na rua, no trabalho, na faculdade ou até mesmo nas redes sociais.

      A vida não é um ensaio, e ela exige  muito MAIS que um personagem ou uma interpretação...exige apenas que seja vivida naturalmente. [Anderson Gomes]
 texto de:


domingo, 1 de julho de 2012

CUIDE-SE


        Você... Como você se sente?
Quando foi que você se fez esta pergunta tão curta?
Qual foi a última vez que você se sentiu, se tocou, se viu ou se prestou atenção?

       No mundo tão caótico, e turbulento como o que nós vivemos, a miséria reina à céu aberto. Neste terreno, prega-se muito em fazer o bem sem olhar a quem...
concordo...
não se olha realmente AQUÉM...
só se olha além...
além de si mesmo.

      Por que a pressa desenfreada de ir atender desesperadamente ao apelo alheio ―quando alheio é, muitas vezes, o seu sentimento sobre si mesmo?

    Como poderão fazer o bem sem antes olhar o quanto se está AQUÉM de si mesmo e o quanto se está AQUÉM deste bem?

      Como se poderá fazer o bem além, se  não souber, ao menos, como  se sente?

À propósito:
―Você se sente bem neste momento?
Poucos sabem... Muitos não querem saber. Mas  não saber como se sente é preferível para quem  não quer ocupar-se dos próprios sentimentos.
Não saber como  se sente, é "pre-ferível" para quem quer esquivar-se de si mesmo. 
Não saber como se sente é uma opção feita em algum momento da vida. Uma vida onde a dura realidade pode ter ofertado poucas condições de se lidar com ela. Especialmente quando essa realidade é a sua. E  lidar com a realidade do próximo é uma maneira de NÃO  aproximar-se da própria.

       Cuidar da dor do próximo é importante. Pode até lhe fazer sentir melhor ao perceber que a dor do outro não se compara com a sua. Mas comparações não farão com que você saiba como lidar com a dor. Nem com a sua, nem com a  dor do outro. Pode até atordoá-la... ou atordoar-se, ao mesmo tempo em que tenta se doar.

       Antes de  ajudar ao outro:  Observe  se você tem se ajudado.
Antes de  ajudar ao próximo: aproxime-se de si.
Perceba se a pessoa mais D-I-S-T-A-N-T-E de você ―está sendo você mesma.
Antes de fazer o bem sem olhar a quem: olhe-se!...pois olhar-se já é um BEM .

         Bem melhor que tornar-se alheio de si mesmo, e desconhecido dos próprios sentimentos ―é reconhecer que não é o trabalho ao próximo que nos torna mais humanos... Antes, é o trabalhar-se a si mesmo:
  • Se sentindo, 
  • se buscando e,
  • se percebendo 
  • Se tornando cada vez mais capaz de compartilhar  tudo aquilo que primeiramente se cuidou dentro de si.
Portanto:
CUIDE-SE!
        E se não souber como se cuidar, busque  ajuda para tais cuidados. Pois lidar com a psiquê humana, exige cuidados  especiais e psicológicos.

CUIDAR-SE é um dever!
O que não se deve, é entregar-se ao próprio descaso, pois nada acontece por acaso.
__________
texto de:
autor

sábado, 23 de junho de 2012

capacidade X sexualidade

         "As barreiras sociais nos cegam"(GOLEMAN,2006)

 Tema de hoje: SEXUALIDADE.

Olá?
Hoje falaremos sobre SEXUALIDADE. Tema que ainda está associado a capacidade física dos seres  humanos por sua cultura.

Você bateria no seu jogador favorito por conta disso?"
[Para maiories informações sobre esta notícia, o link estará disponível ao fim deste texto]
          Achei muito boa a iniciativa da ONG alemã que distribuiu cartazes pela Polônia e Ucrânia, países que sediam a Eurocopa,  numa tentativa de diminuir o preconceito contra os gays no futebol. O cartaz traz a imagem de dois jogadores que aparecem se beijando ao lado da frase: "Você bateria no seu jogador favorito por conta disso?". A peça foi colocada nos arredores dos estádios onde estão sendo realizados os jogos. Vale lembrar, que tanto a Polônia quanto a Ucrânia são bem pouco tolerantes com relação aos homossexuais.
           Diante disso eu pergunto: Polônia e Ucrânia, são menos intolerantes que o Brasil? Já pensou se os mesmos tipos de cartazes fossem expostos aqui? Aqui no Brasil é muito bonito as pessoas dizerem que não são racistas, que não são homofóbicas ―em público. O mesmo já não acontece na conduta particular de seu dia a dia. O mesmo também não acontece na frente das câmeras. Para enfatizar  o foco sexual do meu texto de hoje, separei um vídeo apresentado no programa CQC, onde com muita competência, Rafinha Bastos  mostra, de maneira nua e crua, como uma opinião pode ser mascarada e des-mascarada na frente e por traz  das câmeras.

"Quando a luz se apagar, e a porta se fechar, quem poderá dizer 
quem é quem?" (SAMADELLO, 2012)"

          Poucos repórteres como Bastos, tem a audácia e a firmeza  em abordar temas tão polêmicos como ele só. O que, em nenhum momento diminuiu sua competência profissional, ou comprometeu sua sexualidade, seja ela como for. Vale à pena fazer uma pausa no texto e assistir ao vídeo...  pois a leitura do mesmo também se relaciona com este conteúdo.


            Todas essas opiniões colhidas na entrevista do vídeo, me fez lembrar da estrutura psicodinâmica do ser humano. Todo comportamento manifesto, é aquele coerente com as exigências sociais. São conteúdos que  em psicologia que chamaríamos de  conscientes. Mas tudo aquilo que de fato É, e que  se passa nos bastidores, por traz das câmeras: metaforicamente chamaríamos de  Inconsciente...  Constatamos então, que a opinião emitida e omitida por traz das câmeras  ―demonstra muito mais do que foi dito na frente delas. Ou seja, demonstra que existe muito material guardado abaixo de cada camada de nossa vida, longe de qualquer  holofote. Por traz dos holofotes, ninguém conhece ninguém. Muito menos debaixo de cada lâmpada fluorescente quebrada em homossexuais agredidos com este tipo de violência, como aconteceu em São Paulo um tempo atraz.
 [Para maiories informações sobre esta notícia, o link estará disponível ao fim deste texto]
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           Apesar disso, acredito que pior que essas cenas cada vez mais recorrentes,  é o drama de quem nega a sua própria sexualidade em favor da sexualidade dos outros...  Claro que ninguém é obrigado, e nem deve ser obrigado a sair por aí declarando-se gay. Mas para os que assim o desejam declarar-se: falta abertura, espaço, direitos. Ao heterossexual, é dado o cabimento de arrotar sua virilidade; de mostrar  o quão é pegador para a sociedade que o cobra tal postura; de exibir o gesto da mão no saco escrotal por ocasião de coceiras súbitas; de gritar o quanto caçou na noite como exímio caçador; e mais que isso: dizer o que fez e o que não fez com suas "presas". A mesma postura, já não é permitida para as mulheres, e muito menos para homossexuais.
         Será nosso país, mais intolerante que outros países?
Que tipo de país estamos construindo? O país das diferenças?... ou das indiferenças?
         Me pergunto até onde estamos colaborando com este tipo de pensamento que reforça essa cultura retrógrada. Até onde consentimos e fazemos o mesmo. Até onde nos omitimos em benefício do Outro....e para o conforto do Outro. Consequentemente, pergunto: Até onde nos ANULAMOS, e ignoramos o nosso desejo?
Tal raciocínio   deduz, que essa negação esteja relacionada ao bem estar do Outro.
"A mim não importa ser a sombra
Quando você é a figura
Ser a situação
Quando você é o assunto"(ORLANDO MORAIS)
  • Pensar que se NEGA para AFIRMAR  o O'utro ―é um desejo de quem? Do sujeito ou do O'utro? 
  • Nesta perspectiva, não estaríamos falando de ALIENAÇÃO?
  •  
          Somos todos prisioneiros do sistema, diriam alguns. Mas que sistema? Pergunto eu. Do sistema capitalista? Do sistema de governo de nosso país? ou prisioneiro do sistema psíquico?
          Para Lacan (1979), nascemos no campo do Outro. Sendo o nosso primeiro grande Outro ―a mãe.  É através dela que entramos em contacto com o desejo. Desejo dela. E o nosso? O nosso, acaba sendo o desejo dela. Somos levados a satisfazer como filhos, a todos os seus desejos e faltas maternas. Daí, e desde então, a busca do IDEAL inalcançável... Ideal que sempre será outro... e outro e outro... vindo a perde-se cada vez mais na eterna busca do desejo desconhecido. Assim, o sujeito cresce em busca daquilo que não sabe. Ou seja, não sabe  o  que quer  na vida...se ser um bom médico, juíz, professor, ou qualquer outra coisa. Porém ele sabe de uma coisa: quer ser RECONHECIDO. E quem não quer ser reconhecido?...Cabe, então, enfatizar que todo RECONHECIMENTO depende de um outro...mas não um outro qualquer, mas ―um grande O'utro: alguém de referência, alguém por quem se tenha consideração. E é na busca desse reconhecimento que o sujeito se perde de si, e não mais se reconhece. Em outras palavras:
Há toda uma dificuldade de se fazer reconhecer pelo Outro. Mesmo porque, nessa busca de reconhecimento o sujeito acaba  se submetendo ao desejo desse Outro. Essa submissão pode vir a sufocá-lo, e a anulá-lo  levando esse sujeito a alienação.  Isso pode ser exemplificado com a famosa expressão bíblica tão levada ao pé da letra (literalmente) por muitos cristãos --fanáticos-- por  não saberem entender o que quer dizer  o "eu não sou mais eu, mas Cristo vive em mim"
Este tipo de "entendimento" é também exemplificado na mais linda declaração de amor em que se consta expressões como esta:
"eu não vivo sem você"
"eu sem você não sou nada".
É lindo, é poético, é até sonoro... mas só expressam o estado mental de quem não sabe mais quem é ou o que é  como pessoa ―pessoa dotada de desejos, sentimentos, gostos e outras singularidades que nos diferem um dos outros.
           Parece que vive-se em mundo disposto a adequar o ser ao mundo. Mas que mundo? Da maneira como projetam este planeta, viver nele parece ser um constante desafio, onde a lei da da sobrevivência é a lei das aparências. Mas... as aparências enganam...
Engana-se quem acha que jogadores e atletas, por exemplo, não possam contribuir para a vitória de seu time.
  • Engana-se que a força se dá, ou está na sexualidade dos sujeitos.
  • Engana-se que a capacidade de um jogador de futebol gay se diminue quando ele "arrota" sua sexualidade,ou coça o saco, da mesma forma como o hetero arrota a sua numa mesa de bar.
  • O que o diminue é o olhar do Outro... que figurado no olhar das torcidas,  xingam, cospem, vaiam, e repudiam qualquer tipo de jogador que não esteja em conformidade com os valores impostos a tradição heteronormativa.
Uma destas posturas, se assiste no seguinte vídeo de 24 segundos, a seguir:


SE FAZ REALMENTE NECESSÁRIO COLOCAR NA BALANÇA A CAPACIDADE E A SEXUALIDADE DE UMA PESSOA?

     
 É  através das escolhas que fazemos, que podemos dar MAIS ou menos peso àquilo que consideramos IMPORTANTE na vida. (Anderson Gomes)
__________
LINKs das notícias mencionadas:

domingo, 17 de junho de 2012

―Seu cachorro!


Tema de hoje:
Relacionamentos
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           Assistindo o programa "Saia Justa" do canal GNT, me inspirei para escrever algo sobre relacionamentos nesta postagem. Numa conversa informal, clima que ambienta o programa, uma das convidadas ali presente,  comentou um email que uma telespectadora enviou ao programa trazendo o seguinte assunto:
        Ela e seu marido adotaram um cachorro para alegrar a casa, uma vez que não queriam filhos no momento. O cachorro era muito amado, mas  com o passar do tempo, o mesmo passou a ser incômodo para seu marido, que segundo esta espectadora, "estava quase surtando em ter que limpar o xixi e o cocô" do animal; animal este que não era tratado como tal. Então, levantou-se uma DÚVIDA em seu íntimo : se o esposo seria um bom pai, quando ambos tivessem um filho. Afinal "com que paciência ele trocaria as fraudas?"...Gerou-se uma grande polêmica rsrs A entrevistadora Mônica Waldvogel deu seu ponto de vista sobre a questão: Ela também tivera um cachorro, e embora gostasse muito dele, nunca esqueceu que ele era apenas um cachorro.

        Aqui estamos para falar sobre isto  como um dos temas propostos na enquete ao lado. Aliás, antes de prosseguirmos, gostaria de solicitar ao caro leitor, que dê uma paradinha na leitura para  votar em um dos temas, caso ainda não tenha colaborado com a enquete de sugestões.

        Sendo o ser humano um ser marcado pela linguagem, ele pode  não só reproduzir essa linguagem, mas criá-la, dando outros significados e conotações a algo já existente, e pré-estabelecido, por exemplo. Isto, por si só, já nos difere dos animais. Animais não cria, apenas reproduz. E quando cria um ninho, um novo buraco, um esconderijo, está apenas reproduzindo a sua programação biológica e  instintual. O ser humano, por mais que seja um ser biológico ― é também um ser "bio-lógico". Embora sua lógica esteja sempre em falta. Falta esta que aponta para o vazio, o furo, a lacuna que os animais não sentem e não buscam preencher, por mais que passem a vida cavando  e escavando seus buracos. Enquanto os buracos desses animais sejam externos, buscando instintitvamente proteção e abrigo; o buraco do Homem são os seus vazios, e, portanto ―internos.
Tudo que nós seres falantes viemos a produzir, aponta-se para buracos, por mais que tentemos tampá-los ou tamponá-los.
          Falar com um animal como se fosse gente, implica em algumas considerações. É antes de tudo uma escolha.  Sendo uma escolha, logo, há significado. É só porguntar ao dono de um animal os por quês deste modo de interação com animal através da fala que ele saberá responder. O mesmo não acontece com o animal. Ele não sabe dizer  por quê  late, e não mia ou rosna. Ou mais que isso: não sabe dar significados ao seu latidos. Ou seja, não sabe significar. Dando duas opções de comida para uma pessoa, ela se põe na dúvida de qual comer, mesmo que no final das contas coma as duas porções na tentativa de saciar, não a sua fome, mas a sua dúvida ―sua lacuna humana.  Já o animal não pensa, e portanto, não duvida, logo, come duas ou mais porções sem questionar sabores, aromas ou quantidades.

[obs: Me refiro nesta passagem aos cachorros  mais comuns, e não aqueles "luxentos" acostumados a ração ou filé mignon. Mesmo estes cachorrinhos de "madame" se passarem uma semana perdidos na rua, comerão de tudo para sobreviver, de acordo com seus instintos. O mesmo acontece com os chamados "vira-latas". Cachorros como esses, podem adiquirir um paladar tão  refinados quanto os de raça, desde que  sejam dadas  condições necessárias para um paladar  mais apurado.] 
          Ao animal, opta-se comunicar, através da fala, da voz e suas interjeições. Mas optar-se por comunicar, deste modo, não quer dizer que se faça comunicar.
Eu me faço me comunicar com você leitor, através destes escritos... o que não dá garantia de me fazer entender... Mas eu sei que o mau entendido faz parte daquilo que é humano.
           Há uma DÚVIDA no primeiro parágrafo deste texto, no contexto da espectadora que não sabe se seu esposo será bom pai, quando ambos tiverem um filho. Cabe aqui alguns questionamentos:
  • Ser dono e ser pai tem os mesmos significados para você?
  • Ser dono de um animal e ser pai de uma criança traz as mesmas implicações?
Poderíamos a partir dai, pender para as relevâncias paternas numa relação familiar. Mas não é o foco deste texto que visa relacionamentos, embora ainda não tenhamos tocado no ponto chave da questão ainda.

        Qual a intenção quando se busca adotar um animal, NO LUGAR de ter uma criança, seja lá por adoção ou por vias reprodutivas?
  • Que lugar é este ―o da criança?
  • Que lugar é este ―o do animal?
  • Ambos estão no mesmo lugar?
         Em muitos casos "SIM"... criança e animal estão no mesmo lugar, especialmente num mundo onde crianças vivem como bicho. Mas, mesmo neste lugar  "animal", a criança, como ser humano que é ―sabe responder ao seu meio habitat de acordo com os estímulos que a cercam. Ou seja, a criança, por mais que seja tratada como animal, é marcada pelo resto de sua vida com as palavras [significantes] que são descarregadas nela. E mesmo que viva alienada ao significante do O'utro, esta "criança-bicho", tende a ver o mundo pela ótica alheia. Ou seja, a ótica dos outros. Cresce-se assim, uma criança que não sabe onde é o seu LUGAR  no mundo. Uma criança que mais tarde será um adulto perdido... perdido entre tantos significantes. Perdido especialmente nos significantes das propagandas comerciais. Ou seja, naquilo que o comércio propaga.
"...os significantes são realmente encarnados, materializados, são palavras que passeiam e é como tais que elas desempenham sua função de acolchetamento" (LACAN, 1985)
Não nos aprofundaremos no ponto comercial mencionado, porque não é o foco desta postagem. Caberia ainda neste texto falar sobre a criança psicótica, mas isso desviaria um pouco do tema, pois o mesmo se desdobra  sobre SIGNIFICANTES e SIGNIFICADOS. Mesmo que eu pudesse falar um pouco mais  que:
―Para criança psicótica faltou o significante  do Pai.
Mas... voltemos para os significantes destas linhas.
          Atualmente, está se  dando aos objetos [objeto -no sentido mais amplo da palavra] novos significados na tentativa de preencher os VAZIOS da alma... tentativas frustradas que logo desaguam em qualquer relacionamento: pessoal ou conjugal.
          No e-mail enviado aquele programa, não se fala de quem FOI a iniciativa de adotar um animal de estimação. Mas se fala em "alegrar o ambiente". Se fala em adotar um cachorro no lugar de uma criança. E por quê?
Poderíamos pensar que:
  • Será que dá menos trabalho?
  • Será que foi pelo fato de o animal não saber significar? (Embora tivesse ali um significado embutido no LUGAR ocupado por ele)
      As respostas poderiam e podem ser várias... não cabe aqui encerrá-las ou dar um sentido para a demanda de uma espectadora que talvez nunca venhamos a conhecer ou ouvir a sua fala pessoalmente. Há muitos psicanalistas, ou psicólogos que fazem suas interpretações selvagens. Mas como eu trabalho com psicanálise lacaniana, os significados estarão sempre abertos a novos significados [dados pelo sujeito da fala]. No máximo poderemos levantar uma hipótese apenas para nos fazer refletir.
"É o significante que domina a coisa, pois no tocante as significações, elas mudam completamente" (LACAN, 1985)
       O drama do casal em questão, TALVEZ, se dê pelo fato de que ambos tenham significados diferentes quanto ao LUGAR da criança, e quanto ao LUGAR do animal. Significados esses que não só diferem no sentido, mas também no tratamento dado ou destinado para cada respectivo objeto. 
[obs: Importante lembrar para o leigo nas áreas científicas que a palavra OBJETO empregada aqui, tem um sentido mais amplo].
Por haver nitidamente essas diferenças, não pode-se julgar com base nisso, se aquele marido  será ou não um bom pai. Ou seja, o que o fará bom ou um péssimo pai terá mais haver com outras características intrínsecas à sua pessoa, que com o LUGAR que ele reserva a futura criança. Em outra palavras,  o LUGAR que  ele, como futuro pai preserva para seu filho, não é o mesmo LUGAR dado  àquele animal por sua dona... ou seria "mãe"???
          Saber qual LUGAR ocupamos na vida, e na vida do O'utro, vem ser sumamente importante para não afogá-lo com nossos próprios significantes ou absorve-lo em nossos próprios significados.
          Nesse sentido, muitos relacionamentos caem em ruínas [in]significantes, porque o casal, muitas vezes, mal sabe o que é SEU e o que é do OUTRO. Submersos em SI MESMOS, chegam a apelar  para um outro mais alienado que eles mesmos, nesse caso: um cachorro.
         Talvez, O LUGAR estivesse desde sempre VAZIO...
Talvez nunca estivesse ocupado. O e-mail daquela espectadora também não informa de quem partiu a decisão de não ter filhos. Decisão esta que deu origem a outra: a de adotar um cachorro. Mas a decisão de não ter filhos, não impediu de A-PARECER o lugar... o Lugar disponível para ser ocupado... ou para permanecer vazio... a agonizar  por quem venha  alegrar a casa...ou a ALMA... (eu diria)... na tentativa de preencher seus "buracos".

domingo, 10 de junho de 2012

Um assunto PARTICULAR

De onde viemos? e para onde vamos?

Desde que o mundo é mundo, estas duas perguntas vem se tornando o FOCO da busca de sentido da existência humana.
Ter um livro de respostas, ajudaria?
ajudaria em quê?

Ter alguém que, nos telejornais, nos diga se vai chover ou fazer sol ―é imprescindível para muita gente.
Ter uma revista ou um site de horóscopo que nos diga como será o dia de amanhã ―é igualmente importante para milhões de pessoas.

Como nós viveríamos se soubéssemos o dia da nossa morte?
Como viveríamos estando em contagem regressiva?
Que sentimentos  acompanharia a todos nós?

Se você, caro leitor,  reler o texto do primeiro até o presente parágrafo, perceberá que ele foi todo escrito no plural, e de maneira generalizada, e, no contexto coletivo. Releia-o por favor, antes de entrarmos no próximo ponto.

No princípio era o verbo... (Joao: 1:1)
As palavras são feitas justamente para distinguir as coisas, já dizia Lacan (1985). A palavra distinguir, perde-se em meio a tanta igualdade de gênero. Ninguém mais trata as crianças como crianças; nem ao idoso como ser vivo; o negro como humano; o gay como cidadão; as mulheres como sexo oposto ao homem; os deficientes físicos como parte integrante da sociedade, assim como os gordos e obesos. Talvez porque essas classes, muitas vezes, já  não se distinguam mais enquanto seres distintos, que são.
Nesse raciocínio, cabe recorrer ao dicionário, para enfatisar o sentido dado ao termo:

distinguir:
  • 1. Não confundir.
  • 2. Estabelecer ou conhecer a diferença que há entre pessoas ou coisas.
  • 3. Ver claramente (ainda que de longe), avistar.
  • 4. Perceber, ouvir.
  • 5. Notar.
  • 6. Marcar, assinalar.
  • 7. Discriminar.
  • 8. Caracterizar.
  • 9. Fazer distinção (de pessoas).
  • 10. Tornar-se distinto. = ASSINALAR-SE  (PRIBERAN, 2010)
  • O que seríamos se pudéssemos ter todas as respostas?
  • O que seríamos se pudéssemos ter tudo que quiséssemos?
  • O que seríamos se pudéssemos SABER do dia de amanhã? Seríamos humanos?

Esta é a grande questão... saber o que somos parece simples, mas esta aparente simplicidade tem levado a muitos civilizados a um comportamento animalesco ou quase vegetal.
Na lei da selva: sobrevive o mais forte.
E na lei cívil?...é diferente?
Estamos, como humanos, dando um outro significado ao HUMANO.
O ser humano nasce, cresce, reproduz e morre... e tudo aquilo que deveria distingui-los dos outros seres ―perde-se em meio a sua própria pluralidade.
  • As várias tendências da moda;
  • as muitas necessidades  físicas;
  • os inúmeros objetivos da vida;
  • os indescritíveis sentimentos manifestos, os muitos outros latentes e,
  • os diversos tipos de comportamentos humanos ―confundem  o ser humano  que ao longo de sua própria existência, desespera-se por NÃO SABER o que fazer.
E eis o que nos marca como humanos: o não-saber... a falta... o desejo.

"O desejo é sempre enigmático e por isso mesmo ele apela ao SABER, constituindo assim o sujeito articulado a um desejo de SABER" (QUINET,1951)

É o não saber que nos motiva ao SABER...saber este que não sabe o que quer saber. Sabe-se porém, que este enígma vem sendo simplificado na padronização de condutas. Condutas estas nada sábias, insanas e impensadas.
Foi o que levou mulheres às fogueiras numa época em que a morte parecia ser a única sentença por desvios de conduta à moral cristã.
Foi o que inspirou Hitler a desenhar uma nação de um só pensamento, de uma só cor e de uma só voz: a sua voz!
É o que tem levado milhares de pessoas, em pleno século 21, a serem vítimas de todo o tipo de bullying por não se adequarem à fita métrica do peso, altura, forma, cor e sexualidade imposta.

Por traz de toda essa ditadura da beleza  existe o DESEJO, o desejo de ser... mascarado pelo desejo de TER.
"Quem TEM conhecimento É o cara!"... em outras palavras, quem tem conhecimento tem tudo. Tem?
Felizes eram os índios, antes da invasão do homem branco...Que em sua sapiência dizimou milhares de aldeias em nome da sua ganância de TER o do outro pra si.... para si ―animal irracional.
A ganância de TER sempre mais,e mais, TEM tem levado ao homem civilizado a um comportamento animal. Se o animal mata para sobreviver conforme seu instinto, o homem mata por prazer conforme o seu "saber".
Torno a dizer: na lei da selva sobrevive o mais forte...E na lei cívil?...é diferente?
Estamos, como humanos, dando um outro significado ao HUMANO.

Degladiando-se entre a fé e a ciência (criacionismo ou evolucionismo?) o homem não sabe de onde veio  nem para onde vai...mal sabe como está. Os que poucos têm consciencia de suas ações buscam psicoterapia ou análise para o seu ser... para o seu não-saber... para o seu desejo... para a sua falta.
 Mas os que vegetam entre os vegetais -->> têm reforçado conceitos e preconceitos fossilizados... como é igualmente jurássico os valores expedidos mundialmente em torno do comportamento humano.

Nesse raciocínio comportamental, os mais renomados "formadores de opiniões" em seus programas de entrevistas, tem pesquisado nas falas  de seus convidados o:
  • como proceder, 
  • como agir, 
  • como pensar  e 
  • ver a vida. Como SE o olhar do outro pudesse ser o seu também. E nessa ilusão (ilusão de ótica) muitos caminham cegos pelo caminho alheio embusca do próprio caminho.

Pensando nisso, me lembrei que certa vez, na entrega do trofél "Globo de Qualidade" (MELHORES DO ANO), o apresentador Faustão perguntou, ao brindar Glória Pires por seu desempenho em sua última novela:
 "Qual o segredo de saber a administrar a vida pessoal e profissional?".

Eu, Anderson, gostei muito da resposta que Glória Pires deu ao apresentador. Entre outras  coisas que ela falou, destaco o seguinte trecho:
"A gente não SABE como faz...a gente vai buscando. No meu caso eu fui buscando uma forma de poder ter a minha vida; poder viver normalmente, ter minhas PARTICULARIDADES [...] Antes de ser atriz eu sou um ser humano. Eu tenho a minha vida, meus filhos, meu marido... OS DESEJOS comuns, os medos comuns a todo ser humano... então NÃO SEI como fazer"... (GLÓRIA PIRES)

Diante da sábia resposta da atriz, Faustão (que não tem papo à altura) só soube dizer: "é verdade". rsrs... e ele ia dizer mais o quê? rsrs
Para quem quiser conferir na íntegra a esta entrevista de premiação, deixo aí o vídeo. Quem quiser se ater somente nas falas citadas: veja onde vídeo marca  1 minuto e 5 segundos. Quem não quiser ficar escutando até o fim as baboseiras do apresentador basta apenas assistir ao vídeo do minuto anterior até 2 minutos e 30 segundos.
Observei, neste evento, que a mesma pergunta foi dirigida aos outros ganhadores do trofél, em suas respectivas categorias. Depois procurem, se desejarem, os outros vídeos da premiação na internet... perceberão que a mesma pergunta é dirigida a todos os outros entrevistados da noite. Também a tenho constatado nos demais programas de entrevistas e noticiários que assisto sempre que se faz presente um artista de minha predileção. Ou seja, o mesmo tipo de pergunta generalista vem à tona: Qual o segredo do seu profissionalismo?
Qual o segredo disso?
Qual o segredo daquilo?
Como se houvesse O SEGREDO...
  • A RECEITA
  • A FÓRMULA
  • O CHÁ
  • A ERVA
Embusca do caminho das pedras, muitos vem focando apenas em um único caminho... daí tantas guerras, brigas e discussões intermináveis em torno de pontos aparentemente universais... É o ser humano impondo aquilo que ele considera como absolutamente certo e  "ÚNICO" sobre o outro:
  • O ÚNICO CAMINHO
  • A ÚNICA  RELIGIÃO
  • A ÚNICA  SEXUALIDADE
  • A ÚNICA RAÇA (pura)
Tudo aquilo que diferir do "ÚNICO" pode vir a ser alvo de chacota, zombaria e/ou bulliyng. Em tempos medievais, a guilhotina, a masmorra, a fogueira ―seria o destino certo. Mas em tempos pós-modernos como os nossos: as diferenças "vai na porrada mesmo".
ÀS diferenças, resta o resto da indiferença.
Mas MAIS do que a INdiferença alheia ―é você (meu caro leitor )ser indiferente a SI mesmo...
MAIOR que o peso das cobranças alheias ―são as tuas cobranças pessoais...
PIOR que o descaso dos outros ―É o descaso que você venha a fazer com suas PARTICULARIDADES, com suas nuances e principalmente com os seus sentimentos.
Cuide-se!

"O que nos caracteriza como cada um, é ser o que os outros não são" (LACAN, 2003)

REFERÊNCIAS:
______________________
LACAN, J.(1955/56) O seminário , livro 3. As psicoses. Rio de Janeiro: Zahar, 1985
LACAN, J. (1961/62) O seminário, livro 9. A Identificação. Recife: Centro de Estudos Freudianos do Recife, 2003.
QUINET, A. A descoberta do Inconsciente: do desejo ao sintoma. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2000

"distinguir", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2010, http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx?pal=distinguir [consultado em 10-06-2012].