sábado, 23 de junho de 2012

capacidade X sexualidade

         "As barreiras sociais nos cegam"(GOLEMAN,2006)

 Tema de hoje: SEXUALIDADE.

Olá?
Hoje falaremos sobre SEXUALIDADE. Tema que ainda está associado a capacidade física dos seres  humanos por sua cultura.

Você bateria no seu jogador favorito por conta disso?"
[Para maiories informações sobre esta notícia, o link estará disponível ao fim deste texto]
          Achei muito boa a iniciativa da ONG alemã que distribuiu cartazes pela Polônia e Ucrânia, países que sediam a Eurocopa,  numa tentativa de diminuir o preconceito contra os gays no futebol. O cartaz traz a imagem de dois jogadores que aparecem se beijando ao lado da frase: "Você bateria no seu jogador favorito por conta disso?". A peça foi colocada nos arredores dos estádios onde estão sendo realizados os jogos. Vale lembrar, que tanto a Polônia quanto a Ucrânia são bem pouco tolerantes com relação aos homossexuais.
           Diante disso eu pergunto: Polônia e Ucrânia, são menos intolerantes que o Brasil? Já pensou se os mesmos tipos de cartazes fossem expostos aqui? Aqui no Brasil é muito bonito as pessoas dizerem que não são racistas, que não são homofóbicas ―em público. O mesmo já não acontece na conduta particular de seu dia a dia. O mesmo também não acontece na frente das câmeras. Para enfatizar  o foco sexual do meu texto de hoje, separei um vídeo apresentado no programa CQC, onde com muita competência, Rafinha Bastos  mostra, de maneira nua e crua, como uma opinião pode ser mascarada e des-mascarada na frente e por traz  das câmeras.

"Quando a luz se apagar, e a porta se fechar, quem poderá dizer 
quem é quem?" (SAMADELLO, 2012)"

          Poucos repórteres como Bastos, tem a audácia e a firmeza  em abordar temas tão polêmicos como ele só. O que, em nenhum momento diminuiu sua competência profissional, ou comprometeu sua sexualidade, seja ela como for. Vale à pena fazer uma pausa no texto e assistir ao vídeo...  pois a leitura do mesmo também se relaciona com este conteúdo.


            Todas essas opiniões colhidas na entrevista do vídeo, me fez lembrar da estrutura psicodinâmica do ser humano. Todo comportamento manifesto, é aquele coerente com as exigências sociais. São conteúdos que  em psicologia que chamaríamos de  conscientes. Mas tudo aquilo que de fato É, e que  se passa nos bastidores, por traz das câmeras: metaforicamente chamaríamos de  Inconsciente...  Constatamos então, que a opinião emitida e omitida por traz das câmeras  ―demonstra muito mais do que foi dito na frente delas. Ou seja, demonstra que existe muito material guardado abaixo de cada camada de nossa vida, longe de qualquer  holofote. Por traz dos holofotes, ninguém conhece ninguém. Muito menos debaixo de cada lâmpada fluorescente quebrada em homossexuais agredidos com este tipo de violência, como aconteceu em São Paulo um tempo atraz.
 [Para maiories informações sobre esta notícia, o link estará disponível ao fim deste texto]
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           Apesar disso, acredito que pior que essas cenas cada vez mais recorrentes,  é o drama de quem nega a sua própria sexualidade em favor da sexualidade dos outros...  Claro que ninguém é obrigado, e nem deve ser obrigado a sair por aí declarando-se gay. Mas para os que assim o desejam declarar-se: falta abertura, espaço, direitos. Ao heterossexual, é dado o cabimento de arrotar sua virilidade; de mostrar  o quão é pegador para a sociedade que o cobra tal postura; de exibir o gesto da mão no saco escrotal por ocasião de coceiras súbitas; de gritar o quanto caçou na noite como exímio caçador; e mais que isso: dizer o que fez e o que não fez com suas "presas". A mesma postura, já não é permitida para as mulheres, e muito menos para homossexuais.
         Será nosso país, mais intolerante que outros países?
Que tipo de país estamos construindo? O país das diferenças?... ou das indiferenças?
         Me pergunto até onde estamos colaborando com este tipo de pensamento que reforça essa cultura retrógrada. Até onde consentimos e fazemos o mesmo. Até onde nos omitimos em benefício do Outro....e para o conforto do Outro. Consequentemente, pergunto: Até onde nos ANULAMOS, e ignoramos o nosso desejo?
Tal raciocínio   deduz, que essa negação esteja relacionada ao bem estar do Outro.
"A mim não importa ser a sombra
Quando você é a figura
Ser a situação
Quando você é o assunto"(ORLANDO MORAIS)
  • Pensar que se NEGA para AFIRMAR  o O'utro ―é um desejo de quem? Do sujeito ou do O'utro? 
  • Nesta perspectiva, não estaríamos falando de ALIENAÇÃO?
  •  
          Somos todos prisioneiros do sistema, diriam alguns. Mas que sistema? Pergunto eu. Do sistema capitalista? Do sistema de governo de nosso país? ou prisioneiro do sistema psíquico?
          Para Lacan (1979), nascemos no campo do Outro. Sendo o nosso primeiro grande Outro ―a mãe.  É através dela que entramos em contacto com o desejo. Desejo dela. E o nosso? O nosso, acaba sendo o desejo dela. Somos levados a satisfazer como filhos, a todos os seus desejos e faltas maternas. Daí, e desde então, a busca do IDEAL inalcançável... Ideal que sempre será outro... e outro e outro... vindo a perde-se cada vez mais na eterna busca do desejo desconhecido. Assim, o sujeito cresce em busca daquilo que não sabe. Ou seja, não sabe  o  que quer  na vida...se ser um bom médico, juíz, professor, ou qualquer outra coisa. Porém ele sabe de uma coisa: quer ser RECONHECIDO. E quem não quer ser reconhecido?...Cabe, então, enfatizar que todo RECONHECIMENTO depende de um outro...mas não um outro qualquer, mas ―um grande O'utro: alguém de referência, alguém por quem se tenha consideração. E é na busca desse reconhecimento que o sujeito se perde de si, e não mais se reconhece. Em outras palavras:
Há toda uma dificuldade de se fazer reconhecer pelo Outro. Mesmo porque, nessa busca de reconhecimento o sujeito acaba  se submetendo ao desejo desse Outro. Essa submissão pode vir a sufocá-lo, e a anulá-lo  levando esse sujeito a alienação.  Isso pode ser exemplificado com a famosa expressão bíblica tão levada ao pé da letra (literalmente) por muitos cristãos --fanáticos-- por  não saberem entender o que quer dizer  o "eu não sou mais eu, mas Cristo vive em mim"
Este tipo de "entendimento" é também exemplificado na mais linda declaração de amor em que se consta expressões como esta:
"eu não vivo sem você"
"eu sem você não sou nada".
É lindo, é poético, é até sonoro... mas só expressam o estado mental de quem não sabe mais quem é ou o que é  como pessoa ―pessoa dotada de desejos, sentimentos, gostos e outras singularidades que nos diferem um dos outros.
           Parece que vive-se em mundo disposto a adequar o ser ao mundo. Mas que mundo? Da maneira como projetam este planeta, viver nele parece ser um constante desafio, onde a lei da da sobrevivência é a lei das aparências. Mas... as aparências enganam...
Engana-se quem acha que jogadores e atletas, por exemplo, não possam contribuir para a vitória de seu time.
  • Engana-se que a força se dá, ou está na sexualidade dos sujeitos.
  • Engana-se que a capacidade de um jogador de futebol gay se diminue quando ele "arrota" sua sexualidade,ou coça o saco, da mesma forma como o hetero arrota a sua numa mesa de bar.
  • O que o diminue é o olhar do Outro... que figurado no olhar das torcidas,  xingam, cospem, vaiam, e repudiam qualquer tipo de jogador que não esteja em conformidade com os valores impostos a tradição heteronormativa.
Uma destas posturas, se assiste no seguinte vídeo de 24 segundos, a seguir:


SE FAZ REALMENTE NECESSÁRIO COLOCAR NA BALANÇA A CAPACIDADE E A SEXUALIDADE DE UMA PESSOA?

     
 É  através das escolhas que fazemos, que podemos dar MAIS ou menos peso àquilo que consideramos IMPORTANTE na vida. (Anderson Gomes)
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LINKs das notícias mencionadas:

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