quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

FUGIR ou FINGIR?

FUGIR ou FINGIR?
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      O que falar do carnaval, além daquilo que comumente se sabe?
Seria eu mais um a falar que carnaval é a festa da carne, e dos 4 dias de churrasco que se faz dela?
Seria eu também a falar da carnificina que tanto narram os fundamentalistas  a respeito desta época do ano?
Por que se ocupam tanto daquilo que não querem se ocupar?
Será que já pararam para pensar na mesma proporção em que estão a falar?

Há os que se retiram destas festividades para  "retiro" espiritual  embusca de tranquilidade. Mas sair da cidade, na intenção de fugir do carnaval, não seria uma grande ilusão, visto que carnaval fora de época o ano inteiro?
Há algumas cidades, como aqui em  Maceió AL, por exemplo, que ficam  desertas... as festividades carnavalescas são direcionadas para os interiores.
Opções não faltam para esses 4 dias de feriado prolongado... e tudo que o povo brasileiro quer, é só mais um motivo para "bebemorar" seu[s] dia[s] de folga.
Nesta linha de raciocínio, torna-se apenas um TRADIÇÃO "os retiros da carne" (como se da carne se pudesse retirar-se).
É sobre este "retiro da carne", que hoje me propus a escrever.

Do que tanto se quer retirar?
Poderíamos fazer uma lista infinita para as respostas que permeiam esta pergunta... Mas em vez disso, creio que se faz mais importante, enfatizar que o ano inteiro se ouve, se vê, e se sente o apelo voltado a sexualidade do ser humano, DESPERTANDO  em todos os seus 5 (ou 6) sentidos os prazeres ditos ―da carne.

Esse DESPERTAR, toca no calabouço da alma... ou podemos dizer no "cala boca"?
O que se busca tanto calar na alma ou retirar dela?

O que se pretende nos retiros?
São diversas as alternativas que se apresentam a esta pergunta; desde entrar em contato com a natureza divina (DEUS), ao contato com  natureza terrestre.  Em se tratando de natureza terrestre, abrange-se: a natureza animal, vegetal ou mineral. As possibilidades são muitas, mas o foco deste blog e desta postagem, é trabalhar em cima daquilo que é o foco da psicanálise: A SEXUALIDADE HUMANA.

Um dado  considerável, é que para muitos casais "retirantes", de estado cívil casado ou solteiro: este feriadão, que ocorre anualmente, os leva para longe das festividades da carne, apresentando-se  embrulhado no paradoxo de ter a excelente  oportunidade  de estarem 4 dias juntos com  a carne um do outro, e se ocupando da mesma. Para muitos os casais  casados (não todos), é só mais uma opção para uma lua de mel no campo. Para muitos  casais solteiros (não todos)  é uma chance única, que  não encontrariam  jamais   na capital  de sua cidade.  Diante disso, questiono: O retiro é de quê mesmo?

Há diversas formas de se trabalhar a ESPIRITUALIDADE HUMANA, uma delas é a religião, que na origem da palavra quer dizer:

Religião (do latim religare, significa religação com o divino
Para os que optam se retirar  das influências "mundanas", resta saber, em que mundo estão. Um mundo que  não oferece apenas 1 vez no ano os rítmos do axé, do afro, do frevo, e outros rítimos que atualmente se mesclam ao carnaval brasileiro. No Brasil, é carnaval o ano inteiro. Pra quem quer de fato ter uma ligação com DEUS, deve busca-lo, senti-lo com a alma e com o coração.Deus, transcende a todo entendimento humano, e não se pode aprisiona-lo em conceitos e pre-conceitos doutrinários, isso é pretensão do homem, que sempre quis ser um deus, aos seus próprios olhos.

Falando em conceitos e pre-conceitos (no mais amplo sentido da palavra), basta observar, sem muito esforço,  para constatar  que são os religiosos aqueles  que se mostram  MAIS preconceituosos, em matéria de SEXUALIDADE HUMANA.
Diante disso, questiona-se:
Até onde se separa sexo e espiritualidade?... Aliás, se separa?
A sexualidade humana, não passa pelo âmbito espiritual?
Gostaria de enfatizar neste texto que TUDO aquilo que separam  do âmbito ESPIRITUAL, torna-se puramente mecânico e biológico. Instintivo, defenderiam alguns teóricos. Mas a  sexualidade é mais que isso... envolve um sentido, um significado,  e uma entrega que ultrapassa a fricção, a penetração, ou o fluído dos corpos. Sai do físico, instintivo e puramente biológico, para  entrar numa outra dimensão. Uma dimensão  subjetiva, psíquica, intangível e inatingível.

Há um sentido transmitido no toque, no olhar, no abraço, na sensação do beijo, no se entregar por inteiro, dando uma nova conotação a corpos  que poderiam ser vistos como meras máquinas de REPRODUÇÃO.

É este SENTIR que é de outra dimensão, que produz  SIGNIFICADOS  para além da matéria. SIGINIFICADOS estes que os animais não são capazes de dar... e simplismente porque animais não simbolizam. Animais cruzam, e são do âmbito da obviedade da anatomia, obedecendo além de tudo, as leis da sua espécie. Animais têm instinto, e seres humano tem libido: a energia da sexualidade humana, que permeia tudo aquilo que lhe traz satisfação. Potanto, é possível exercitar também sua sexualidade através da arte, da profissão, do esporte, ou de qualquer outra forma, onde o sujeito se sinta bem... e se sentir bem, é algo indiscutível, que varia de pessoa pra pessoa. O que pode ser considerado BOM para um, pode não ser BOM para outro. Gosto, não se discute.

No tocante a mecânica genital,  o coito, nem sempre traz  satisfação, quando o ato sexual, é realizado apenas como um dever, uma prova, uma rotina, ou simplesmente uma obrigação.
Percebemos então, que a  SEXUALIDADE HUMANA pode ter diversas conotações, e essas conotações quem as dá, é o sujeito que as nota e as denota.

Seres humanos, se experimentam em suas raças, sexos, texturas e cores. Reescrevem sua própria história, e têm o livre arbítrio de dar um novo sentido a anatomia de seus corpos, demonstrando que nem sempre o sexo biológico corresponde ao sexo psicológico. E neste sentido, a sexualidade expande  o seu  conceito como sendo de natureza bio-psicossocial. E quando falamos em psiquê, estamos falando de alma, embora  para  algumas doutrinas, alma e espírito, sejam coisas distintas. Vale à pena trazer aqui também, o conceito que o dicionário tem de espírito, na origem da palavra:
espírito
    (latim spiritus, -us, sopro, ar, alma) (PRIBERAM, 2010)
Seja qual for a dimensão sexual, o sexo ainda é tabu, em diversas sociedades, dentro e/ou fora da religião. Lembremo-nos antes de continuarmos a falar sobre a "festa da carne", que sexo, é antes de tudo: AMPLO, e não se pode reduzi-lo a carne, como erroneamente os leigos em matéria de sexualidade humana,o faz.

Em se tratando de TABU, Freud, pai da psicanálise nos acrescenta em seu livro TOTEM e TABU que:
 "a base do tabu é uma ação proibida cuja realização existe uma forte INCLINAÇÃO  já inconsciente".(FREUD. 1913)

Entendendo por sexualidade, tudo o que diz respeito a satisfação humana, podemos dizer que a sexualidade não se resume ao genital, nem as funções orgânicas e fisiológicas como se limitam algumas visões restristas, que desta forma, limita o ser humano, a um ser de funcionamento estrito e biológico.

Biologicamente o ser humano nasce, cresce, reproduz e morre. É um destino mecânico, e talvez, diriam alguns, até instintivo.
Muitas pessoas, muitas vezes, se acordam  biologicamente  sozinhas, sem a presença de um despertador, ou seja,de acordo com seu relógio biológico.
  • Biologicamente, as pessoas funcionam melhor em um horário, que em outro.
  • Biologicamente sente-se fome.
  • Biologicamente busca-se alimento para  SACIAR a fome.
  • Biologicamente o organismo expele as impurezas do corpo.
  • Biologicamente se des-cansa.
  • Biologicamente se sente fome de sexo.
  • Biologicamente dorme-se e acorda-se de novo.

Sobre a fome de sexo, busca-se igualmente saciá-la o ano inteiro, e não só no carnaval. Mas há quem acredite que é nessa época de ano, o ânus, a boca e a vagina, estejam propensos a ocuparem-se em seus afazeres biológicos. Haveria também o ciclo do cio, no ser humano?
Abramos aqui um parêntese, para conceituar o CIO.
cio
(latim zelus, -i, inveja, ciúmes, emulação, ardor)

1. [Biologia]  Apetite sexual dos animais, especialmente das fêmeas, em determinadas épocas do ano. (PRIBERAM, 2010)
Haveria uma época no ano (ou do ano) em que o ser humano estivesse menos "carnavalesco"? Menos faminto? e menos sedutor?
Haveria uma época em que as roupas não sejam tão provocantes?
Qual?

Quando saímos do campo do biológico, percebemos que há fome que o pão não sacia; e há sede que não é de água.
Há coisas que não são materiais, e que a biologia não dá conta.
Nem tudo é palpável, e nem tudo é "calável", ou seja, não se pode calar. No calabouço da alma, encontra-se a vida inteira, APRISIONADO, tudo aquilo que apenas uma vez no ano, pensa-se em FUGIR e/ou FINGIR.

Fugir do carnaval... ou Fingir no carnaval?

FINGIR NO_ Além dos pontos, já mencionados, deve-se levar em consideração, aqueles, que se acham  muito originais, com suas máscaras carnavalescas, quando, são  essas máscaras  as  verdadeiras vítimas do  calabouço de seus donos. Agora, passado o carnaval, elas, as máscaras, jazerão por mais um pouco de tempo, a espera do  carnaval mais próximo, (os fora de época) onde poderão  FINGIR  mais uma vez que são apenas máscaras, FANTASIAS e nada mais.

FUGIR ou FINGIR... a escolha  é de cada um (conforme seja MAIS conveniente). Porém, entre a FUGA e o FINGIR, permeia a possibilidade de aceitar a  sexualidade humana, como ela é, ou seja ―AMPLA, e multiforme. 


Essa aceitação, que tem sido palco de tantos conflitos, nas  diversas esferas sociais, oferece a sugestão de uma busca por si mesma; onde os   valores alheios   são respeitados, sem desrespeitar   os valores íntimos e pessoais do indivíduo.
A busca, parte da decisão de QUEM se dispõe a trabalhar-se, no dia a dia de sua sexualidade, como ser  humano.
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[texto: Anderson Gomes]
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Bibliografia:
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Freud, S.(1913) Totem e Tabu. In: Obras psicológicas completas: Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
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"cio", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2010, http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx?pal=cio [consultado em 23-02-2012].
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"espírito", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2010, http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx?pal=espírito [consultado em 23-02-2012].

2 comentários:

  1. A festa do carnaval em sua essencia vai bem amis alem de religiao ou de sexo creio em minha humilde compreençao que o carnaval nao somente como os religiosos dizem a festa da carne e sim a festa onde as pessoas fazem aquilo o que durante o ano inteiro e proibido onde poderiam chamar os leigos de festa do ridiculo acredito que somente como todas as festas do ano essa soemnte é uma desculpa pra gasto extremo...nao importa a hora,idade, epoca ou seja la o que for o ser humana e um animal dotado de desejos que tendem a ser supridos sejam eles em um feriado ou em qualquer outro dia...

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  2. Para quem não sabe, carnaval é de origem pagã, e pelo fato de ser uma festa um tanto obscena, a relação entre a Igreja Romana e o carnaval nunca foi amigável. No entanto, o que prevaleceu por parte da igreja foi uma atitude de tolerância quanto à essa manifestação, até porque a liderança da igreja não conseguiu eliminá-la do calendário. A solução, então, foi: se não pode vencê-los, junte-se a eles. Daí, no século XV, a festa da carne, por assim dizer, foi incorporada ao calendário da igreja, sendo oficializado como a festa que antecede a abstinência de carne requerida pela quaresma: Por fim, as autoridades eclesiásticas conseguiram restringir a celebração oficial do carnaval aos três dias que precedem a quarta-feira de cinzas (em nossos tempos, alguns párocos bem intencionados promovem, dentro das normas cristãs, folguedos públicos nesse tríduo a fim de evitar que sejam os fiéis seduzidos por divertimentos pouco dignos), muito antiga, utilizada pelos pelo povo egípcio, e se alastrou por toda parte no período da Idade Média. E assim percorreu por toda Grécia, Roma e outros países. É muita mitologia a respeito, mas que, porém não passa de uma festa consagrada aos deuses. A real origem do carnaval é um tanto obscura. Alguns historiadores assentam sua procedência sobre as festas populares em honra aos deuses pagãos Baco e Saturno. Em Roma, realizavam-se comemorações em homenagem a Baco (deus de origem grega conhecido como Dionísio e responsável pela fertilidade. Era também o deus do vinho e da embriaguez). As famosas bacanais eram festas acompanhadas de muito vinho e orgias, e também caracterizadas pela alegria descabida, eliminação da repressão e da censura e liberdade de atitudes críticas e eróticas. Outros estudiosos afirmam que o carnaval tenha sido, talvez, derivado das alegres festas do Egito, que celebravam culto à deusa Isís e ao deus Osíris, por volta de 2000 a.C.
    Uma festa biblicamente proibida para os cristãos. E quanto ao retiro espiritual, não concordo muito, acredito que quem tem que se RETIRAR, é o demônio SATANÁS que habita na vida de pessoas que usam da violência e das drogas para destruir outras vidas que pertencem a Deus. Nada contra quem se diverte, apenas sou a favor da paz, da harmonia, da alegria saudável entre as pessoas. O carnaval infelizmente causa inquietação, brigas, violência e destruição.
    No carnaval de hoje, são poucas as diferenças das festas que o originaram, continuamos vendo imoralidade, música lasciva, promiscuidade sexual e bebedeiras. Creio que a resposta cabe a cada um. Mas, por outro lado, a personalidade da igreja nasce de princípios estreitamente ligados ao seu propósito: fazer conhecido ao mundo um Deus que, dentre muitos atributos, é Santo, e que sem o qual não veremos a Jesus Cristo.

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